2007-03-18

Religiosos e religiosos

Há no mundo dois tipos de religiosos. Há aqueles que simplesmente crêem em uma "força" que guia os seus passos. Por outro lado há os que na verdade não acreditam, mas sentem imenso conforto em pertencer a um grupo enorme que professa a mesma crença.

Os primeiros, a quem chamarei de "serenos", apesar de terem uma fé inabalável em algo "superior" que não conseguem definir, olham para todas as religiões organizadas com extrema desconfiança. Acreditam que a ciência pode revelar cada vez mais sobre o mundo e acham que fazer o bem é a única maneira de garantir que a sociedade funcione. Nada, entretanto, abala a sua fé interior de que existe algo superior, mas também não vêm nenhuma necessidade em convencer as outras pessoas de que isso é assim. Não acreditam em milagres, mas talvez confiem um pouco mais na sorte do que um cético confiaria.

O outro grupo, que chamarei de "inseguros", se comporta de uma maneira bem diferente. Na verdade no fundo de seu ser não acreditam, mas tentam se tornar mais religiosos do que as pessoas ao redor. Entram em seitas radicais, tornam-se expoentes de ortodoxia dentro de sua própria religião. São os que gritam "amém" mais alto, estrebucham em ritos de macumba, tentam aprovar leis que agradam aos líderes de sua religião, são a favor da ciência quando lhes convém mas são contra quando a ciência lhes aponta os erros. Consideram bom tudo o que é pregado na sua religião e, para eles, todos os demais têm que estar errados. A sua arrogante atitude de crer que possuem a "verdade" que lhes foi "revelada" é um dos mais gigantescos empecilhos ao progresso. É interessante notar que estes, mesmo não sendo capazes de acreditar de verdade, são os mais ferrenhos e até sanguinários defensores dos dogmas mais irracionais, dos preconceitos mais destrutivos. Alguns até querem que o mundo acabe, porque a sua religião está esperando este "maravilhoso" evento para qualquer dia destes.

Os "serenos" são perfeitamente racionais enquanto os "inseguros" distorcem tudo o que vêem e tudo o que lêem de acordo com filtros que provêem de seu conjunto de dogmas. Em sua existência perturbada, secretamente gostariam que todos os que pertencem a outros sistemas de crenças desaparecessem, para assim certificar-se de que a sua religião é única e, portanto, correta. Os "serenos" suportam a dúvida, o não saber, procuram a verdade e estão em paz consigo mesmos. Os "inseguros" só encontram paz temporária quando repetem incessantemente versos de algum livro que consideram sagrado, para poder parar de pensar.

O que é triste é que os "inseguros", se não dispuserem de uma religião para seguir, têm uma forte tendência para entrar em partidos trotskistas ou guerrilhas, e sempre tentarão estar de acordo com a norma majoritária. Serão executores orgulhosos em campos de concentração, serão fiéis lacaios de líderes nazistas ou maoístas.

Eu me pergunto se existe ou não uma cura para estes "inseguros". Será que a solução está em mantê-los subjugados à sua religião, neutralizados? Será que a melhor opção é garantir que fiquem presos a um conjunto infinitesimal de crenças e preceitos que os manterão protegidos do universo, este gigantesco e maravilhoso universo que eles não poderão jamais apreciar ou mesmo tentar compreender?

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente resposta para o post "Ateus e ateus",do Olavo!

Anônimo disse...

Obrigado, Paulo.

No post do Olavo ele tenta demonstrar que os ateus são arrogantes e a causa dos crimes contra a humanidade. Achei ridículo, claro. O Olavo é um típico religioso "inseguro". Não se deixe enganar, esse tipo de religioso é capaz de dedicar a vida ineira a torcer os fatos e mentir para servir aos dogmas incompatíveis de sua própria religião. Custe o que custar.