2007-08-20

Darwin e Religião - 1

Quando surge um grande homem como Einstein, os religiosos rapidamente torcem suas palavras, tanto em vida como após a sua morte, para fazer com que pareça um devoto seguidor das doutrinas da religião em que nasceu. Einstein não era religioso (veja aqui), mas ainda tem gente que acha que era, tamanha a distorção de suas palavras por aqueles que não tem nenhuma vergonha ou receio de mentir - já que na mentira consiste a sua profissão.

A época em que Darwin viveu foi ainda mais dominada pelos religiosos, que embutiram em leis os seus preconceitos mais monstruosos. É até difícil imaginar hoje em dia, mas no tempo de Darwin considerava-se crime algo chamado "blasfêmia" que consistia em negar a existência do espírito santo (!). Houve punições por esse "crime" até 1921 na Inglaterra. É natural que quem se opusesse a doutrinas religiosas fosse extremamente cuidadoso, tamanha a força da ditadura religiosa fundamentalista vigente. Darwin escreveu seu magnífico tratado sobre a origem das espécies mas, cauteloso, esperou muitos anos para publicá-lo. Este livro foi talvez o mais devastador golpe desferido pela Ciência contra a religião.

Até a publicação dessa maravilhosa obra, que é facilmente compreensível para quem se dispuser a lê-la, não se tinha a mínima idéia das relações entre as espécies existentes na terra. O problema parecia obscuro e intratável, e os religiosos deliciavam-se com a sua explicação favorita, que na verdade não explica absolutamente nada: "foi deus quem fez".

Desde que Copernico, Galileu e Newton mostraram que a terra era um pedregulho girando em torno a um gigantesco sol, até o momento em que Darwin mostrou que os macacos e os humanos são parentes próximos, a posição privilegiada que o homem dispunha só se degradou. Somos animais. Esta foi a mensagem que atingiu mais fundo e ofendeu mais violentamente os que estavam acostumados a dizer que o homem tinha sido feito à imagem de um deus. Se assim fosse, o chimpanzé também seria.

Não foram pequenos os esforços que os religiosos dedicaram a sabotar o livro, a denegrir o seu autor, a distorcer as suas palavras. Mesmo assim, a teoria de Darwin foi demonstrada de maneira irrefutável, até mesmo à luz de conhecimentos novíssimos de bioquímica e metabolismo bacteriano. A teoria da evolução sempre é comprovada, até nos detalhes mais delicados. Hoje, extendida e melhorada, sobrevive magnífica. A Arca de Noé foi para sempre relegada ao mundo das lendas, junto com Adão, Eva, a maçã e a cobra, Thor, Afrodite, Tupã e Oxum.

No próximo post falarei sobre como os religiosos terminaram por se apossar dos ensinamentos de Darwin. Clique aqui para ler.

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9 comentários:

Anônimo disse...

Zappi,
Esse é o erro comum doa ateus, transformar uma não crença em uma religião.
Ateus costumam ser mais intolerantes que crentes.
De Santo Agostinho a Sartre, muito se discutiu sobre isso, sobre a existência de Deus, de um Espírito em nós, se somos apenas matéria, etc.
Ninguém chegou à conclusão nenhuma, porque metafísica não se discute com conceitos físicos.
A chance de Deus existir é de 50%, ou Ele existe ou Ele não existe e ponto.
Claro que religiões são estruturas humanas com o propósito de dominar, escravizar a mente das pessoas. Professam intolerância, obscurantismo, um monte de coisas ruins.
Mas não acho que negar a existência de uma Alma, de um Espírito em nós seja algo positivo.
Prefiro pensar que existe um mundo físico e outro metafísico, e meus atos de alguma forma afetam isso que defino como não material, uma essência. Gosto das definições orientais do Espírito, para Buda não existia um Deus, apenas nossa essência.
Pensar que sou algo além de cadeias de átomos me faz uma pessoa melhor e isso é que é importante, independente disso ser uma realidade ou uma ilusão.
Abraço

Anônimo disse...

deuses e demônios são a mesma face de uma ignorância escabrosa que vem assolando a humanidade através de sua história; impedindo de forma absurda e concatenada o avanço e progresso das idéias lúcidas e pervertendo a mente de incautos com preconceitos e crenças. É confortável sempre pensar em um resgate salvador, valorizando cada ser com a suposta eternidade e a possibilidade de reencontrar os seus em planos espirituais distantes. A finitude angustia, a limitação deprime. A ignorância é restauradora, ainda que perversa. Abraços Paolo.

Zappi disse...

Caro Anonimo n. 1,

Ateus fundamentalistas não existem, jamais conheci um ateu que não fosse uma pessoa razoável. Os ateus rendem-se a essa dura característica dos fatos: a de serem fatos! Isso lhes confere uma humildade que nenhum religioso concebe. É mais, que muitos religiosos até invejam.

A probabilidade da existência de um deus depende da definição da palavra deus. Há os que digam "deus é natureza". Nesse caso, a probabilidade é 100%. Quem diz que deus é o criador do universo, tem inteligência, responde a preces e tem um objetivo para cada um de nos tem em mente um deus muito diferente. A probabilidade desse deus existir é muito próxima de 0%. Tão próxima que é irrelevante.

Quanto a alma e espírito, são provavelmente invenções. Séculos de pesquisas não conseguiram demonstrar nem sombra da veracidade desses conceitos. Admito que podem ser conceitos reconfortantes, mas como é que isso os tornaria reais?

Para finalizar, não somos simplesmente "cadeias de átomos". Isso é de um reducionismo atroz. Dizer isso é negar as maravilhosas interações entre átomos, a delicada sutileza das enzimas, os movimentos de microorganismos controlados por efeitos químico-físicos de atração e repulsão... há tanto para ser descrito aqui! É tão maravilhosa a natureza da vida que é práticamente um insulto chamar qualquer ser vivo de "cadeia de átomos".

Obrigado pelo comentário!

Anônimo disse...

Apenas para ajudar a esclarecer: "ateísmo é uma religião anônima praticada escondido. Na época de Nero, os romanos ateus reuniam-se para rezar nas catatumbas cristãs".

Zappi disse...

Nunca conheci nenhum ateu que se reunisse para rezar. É incrível como a mente religiosa insiste na "reza" coletiva...

Bira disse...

Na futura ditadura vermelha, deveremos acreditar piamente que o babalorixá mor irá aplacar todas as mazelas do pais tupiniquim.
claro, cobrará em "mármore carrara" e veículos BMW por essa gentileza estafante.
Isso sim é origem da vida ( de milionario de esquerda)!.

Anônimo disse...

ateu palhaço ignorante

Anônimo disse...

Ninguém nasce religioso. As pessoas nascem céticas e podem ser convencidas de algo.

Aceitar que a crença em deus e nas religiões é uma mandeira fácil e fracassada de se achar que se resolve as questões.

Somos humanos e precisamos resolver as questões como humanos. Não é legal admitir verdades que o "amigo invisível" falou.

Anônimo disse...

Bira, informe-se. Depois disso, retificará seu comentário tosco, creio. É o que faz sentido, afinal, dada sua exposição de conhecimentos políticos e religiosos.

Anônimo, "ateu palhaço ignorante", não. Ser ateu implica em não ser ignorante. Você não sabia? Aliás, 'ignorância' significa não saber de algo, sabia?