2009-01-09

Expressão e impressão

A primeira vez que reparei nessas duas palavras foi quando aprendia alemão. Não há nada melhor que uma língua estrangeira para fazer com que compreendamos melhor a nossa própria.

Vejamos essas palavras: Ex+pressão e Im+pressão.

A primeira pergunta que me veio à mente foi "Que pressão é essa afinal?".

Pressão é equivalente à palavra força e, para os antigos, não havia movimento sem força. Esta pressão é o que move as pessoas à ação.

Quando a pressão está represada, nos a libertamos nos exprimindo. Nossa expressão impulsiona outros a fazer algo se conseguirmos formar dentro de suas mentes uma impressão favorável.

Assim a expressão gera a impressão que gera novas expressões. Nessa vigorosa dança o mundo muda de rumo.

Da mesma maneira, se algum grupo não deseja o progresso, a primeira providência é sempre cercear a expressão. Em todos os regimes totalitários isso aconteceu de forma mais ou menos completa. Esses regimes terminam por colapsar por sua própria incompetência, mas não sem antes destruir milhões de vidas e pensamentos e assim deixar seu povo em um estágio muito atrasado.

A outra forma de imobilizar o mundo é muito mais sutil. Ela funciona pelo lado de limitar as "impressões". Como? Se a capacidade de comunicação é tão baixa que o ouvinte nem sequer entende o que lhe é dito, a expressão pode existir mas a impressão jamais se forma. É a maneira mais perversa de limitar um povo.

É o que acontece no Brasil.

Quando não se é totalmente analfabeto no Brasil, as crianças e adolescentes estão submetidos à mais perversa doutrinação. Esta doutrinação vem da escola, dos professores, da televisão, da família, das empregadas domésticas. As verdades básicas são repetidas infinitamente e qualquer outra informação encontra cérebros refratários, indiferentes. Nada muda. Todos aplaudem quando é para aplaudir. Opinião própria é uma coisa feia. Todos concordam. Ninguém reclama. Harmonia total.

O brasileiro nem sabe o que é debate. No Brasil debate é colocar um representante da UNE e outro da reitoria para trocar insultos. Debate no Brasil é só mais uma baixaria, como o domingão do Faustão, Chacrinha ou Silvio Santos. Debate no Brasil é o Lula falando em rede nacional ou o Maluf acusando a Marta de ladra. Um exclusivo canal para espalhar atraso. Nunca um pensamento lógico, nunca uma opinião. Opinião é uma coisa feia. Reclamar também é feio.

Quando cheguei à Australia fiquei espantado com esta diferença: aqui na escola primária há curso de debate. Sim, debate real, com argumentos lógicos, com regras rígidas, a expressão gerando impressões, as impressões gerando expressões. Nunca vi nada disso no Brasil.

Debates podem ser ganhos ou perdidos. Entretanto o que se expressou fica para sempre dentro de cada ouvinte. Essas impressões evoluem lentamente e no fim a verdade prevalece.

O gosto pela verdade deve ser cultivado. É mais facil aceitar mentiras prontas, tranquilizadoras, repetidas ad infinitum com aquela expressão insípida de apresentadora petralha em propaganda eleitoral.

Quem gosta da verdade reage imediatamente. Expressa-se, doa a quem doer.

2 comentários:

Anônimo disse...

Show de bola:

"A outra forma de imobilizar o mundo é muito mais sutil. Ela funciona pelo lado de limitar as "impressões". Como? Se a capacidade de comunicação é tão baixa que o ouvinte nem sequer entende o que lhe é dito, a expressão pode existir mas a impressão jamais se forma. É a maneira mais perversa de limitar um povo."

E mais ainda:

"Quando não se é totalmente analfabeto no Brasil, as crianças e adolescentes estão submetidos à mais perversa doutrinação. Esta doutrinação vem da escola, dos professores, da televisão, da família, das empregadas domésticas. As verdades básicas são repetidas infinitamente e qualquer outra informação encontra cérebros refratários, indiferentes. Nada muda. Todos aplaudem quando é para aplaudir. Opinião própria é uma coisa feia. Todos concordam. Ninguém reclama. Harmonia total.

O brasileiro nem sabe o que é debate. No Brasil debate é colocar um representante da UNE e outro da reitoria para trocar insultos. (...) Nunca um pensamento lógico, nunca uma opinião. Opinião é uma coisa feia. Reclamar também é feio."

Que me resta dizer?
Só mesmo realçar os trechos irretocáveis, como meio de dizer algo que precisa ser dito.

Abraços
C. Mouro

Anônimo disse...

Mais um texto primoroso, Zappi!

Você consegue imaginar a cara de espanto dos meus alunos?... leciono Cito-Histologia, aquele monte de nomes complicados inundando as pequenas mentes dos estudantes de "nível superior".... quando pela primeira vez utilizei-me desta tática (a "desconstrução" da palavra) para explicar o que raio era uma glicosaminoglicano ou 0 ácido desoxirribonucleico (nosso bom e velho DNA...)... meus alunos ficaram boquiabertos.... Ah, "fessôr", então é isso???

Desde então fico que nem sarna para que eles deixem a preguiça mental de lado e, antes de "decorar" aquele palavrão difícil, tentem entender qual a origem do tal palavrão... porém, apenas alguns poucos são "impressionáveis"....

PS: talvez você tenha matado a charada... também estudei (um pouco) alemão e foi quando comecei a decompor as palavras (cada sopa de letrinhas que o alemão tem... verdammte!).

Abraço!

Ielpo