2020-06-10

A mentira perfeita

Imagine que você quer criar uma mentira. Uma mentira tão gigantesca que fosse capaz de enganar o mundo inteiro. Digamos que você quer convencer todo mundo de que há uma praga horrenda se espalhando e que basta chegar perto de alguém para ficar doente. Mais ainda, basta tocar algo que alguém tocou e você correrá risco de vida.

Digamos ainda que você quer convencer todo mundo que a praga é mortal e que devemos fazer de tudo para impedir que ela se espalhe.

Mas, você pergunta, se é tudo uma mentira, como convencer todo mundo que a praga é mortal? Afinal se é mentira ninguém morre, não é mesmo?

Acontece que há um truque muito simples que pode ser usado para que ninguém perceba que é tudo uma mentira.

Digamos que a praga afete todo mundo, mas só os velhos e doentes morrem. Os velhos que já morriam normalmente e os que já eram doentes que também morriam normalmente.

Entenderam o truque?

No Brasil segundo o dataSUS morrem todo ano quase 1,4 milhões de pessoas, a maioria velhos e doentes. Ninguém quer pensar na morte, vade retro. Mas imaginem que você possa convencer muita gente que uma fração minúscula desse número enorme morreram em decorrência da praga mentirosa. Digamos que você convença as pessoas que 40 mil (3% do total anual normal) bateram as botas por causa da sua praga inventada. Melhor ainda, digamos que a causa da morte seja uma doença respiratória. É fácil: mais de 400 mil morrem de doenças respiratórias todos os anos no Brasil (dataSUS outra vez). É só dizer que morreram da praga.

Muito interessante. O que mais dá para fazer uma vez que todo mundo acha que um aperto de mão pode ser letal? Proibir as pessoas de passearem na rua? Proibir viagens? Fechar os restaurantes? As lojas? Proibir usar dinheiro?

Você estaria viajando na maionese se não fosse exatamente o que está acontecendo hoje.