2008-02-28

2008-02-27

Carolas, carolas

Em um post abaixo, "Delírios de uma alma confusa", mostrei algumas contradições inerentes ao pensamento religioso usando como exemplo um carola famoso no Brasil, o Reinaldo Azevedo. As contradições a que me refiro não desaparecem facilmente. Existe até uma disciplina dedicada a mascará-las e a torná-las obscuras a ponto de parecerem indecifráveis. O nome dessa disciplina é Teologia. Um dos comentários que recebi é de um tal "Angelo da CIA", que acredito não trabalhar para a agência americana... Ele diz (em vermelho):

Das confusões que você fez, cabe destacar a sua crítica ao trecho abaixo:
"Se a escola sair defendendo a crucificação como modo de resolver divergências, acho que é o caso de proibir a apologia da estupidez"

Reinaldo está certíssimo, ainda mais porque não especificou que a IGREJA deve ir à Justiça pedir a probição: De fato, a apologia ao crime é proibida. No caso, a crucificação ainda é um crime, não é mesmo?


A crucificação é um crime, assim como enterrar as pessoas vivas. Ainda assim, a fixação carola de seu mentor vê a crucificação como um símbolo divino a ser respeitado. Vale dizer que na época de Cristo, a julgar pelo que dizem os próprios católicos, a crucificação não só não era um crime como era usada para punir criminosos. Isso não muda o que o Reinaldo disse. Ele disse "proibir a apologia da estupidez". A estupidez ainda não é crime, assim como a apologia à estupidez tampouco o é. Ainda bem, né Angelo?

Outro equívoco seu:
"Quando um pastor neopentecostal chutou a imagem de Nossa Senhora, defendi que fosse em cana."

Antes de mais nada, Reinaldo não reverencia a "Santa".


Não? Quem disse isso? O Reinaldo?

O que você deve entender é que, de vez em quando, as convicções religiosas de uns estão de acordo com a Lei. Por que? Simplesmente porque as Leis são moldadas em conformidade com a Moral de um povo em um tempo.

É por isso que a crucificação não era ilegal assim como era recomendado o apedrejamento dos adúlteros. Note que as leis nem sempre refletem sabedoria.

E não sou eu quem digo, pode buscar isto em Bastia, um Liberal com "L" maiúsculo. Ora bolas, se gozamos da liberdade religiosa é de se esperar que devamos respeitar as opções de outras pessoas. Eu que não sou religioso não posso sair por aí xingando e ofendendo a fé de outros e, no fim das contas, chutar a "Santa" foi isto, uma afronta à fé de terceiros.

Que bom que você não é religioso. Note que foi um religioso que chutou a santa do outro. Reinaldo ficou furioso com o conceito de que uma estátua de gesso é... uma estátua de gesso. Se a estátua fosse uma obra de arte, aí seria diferente. Entretanto era uma peça produzida em massa para tirar dinheiro de trouxas. É impossível defender a própria religião sem atacar a do outro. Pergunte aos sunitas e aos xiitas. Pergunte aos católicos e protestantes. Pergunte aos cristãos e aos judeus. Eu acchava que você já tinha entendido algo tão básico, especialmente não sendo religioso.

O que impressiona na sua análise deste trecho é que você ignora a argumentação de Reinaldo para tal opinião, que vem no parágrafo seguinte. E você faz mais, usa o parágrafo seguinte ( que você tabula como "Caso número 3" ) como mais uma evidência de equívoco de Reinaldo.

É difícil para você perceber que o Reinaldo só consegue ver ilegalidade nos pentecostais? Se os católicos atacarem a ciência, por exemplo, eu veria isso como um caso clássico de estupidez, que o Reinaldo subscreve em mais de uma ocasião. Não acho que alguém deva processá-los por apologia à ignorância. Por que então quando um ignorante critica o outro deve ser processado?

Mais para frente você se equivoca ao chamar de "dogmas" as opiniões da ICAR contra o Aborto e eutanásia. Está evidente que sua opinião contra a Igreja é mais fundada num senso comum que espalha que a Religião é fruto e alimento da ignorância. E a maior parte dos que têm esta opinião a fundamentam justamente na própria ignorância: Não conhecem as religiões, não conhecem os seus teólogos e dão de ombros a estes conhecimentos tidos por inúteis.

Onde está o meu equívoco? Até a definição de aborto e vida feita pelos católicos é distorcida. Para eles aborto é a destruição de um óvulo fertilizado e a vida começa com a fertilização, quando todo mundo sabe que o espermatozóide e o óvulo estão vivinhos da silva. O Reinaldo alinha suas opiniões às do Papa e não estou equivocado nisso. Acho até lindo quando o Reinaldo fala em "cultura da morte" referindo-se a quem defende o direito ao aborto. A igreja católica, cujo símbolo é um homem moribundo em uma cruz, não inspira muito mais esse apelido?

De certa forma, ao fazer a crítica cega e apedeuta à Religião, a maior parte das pessoas age como aquela criança que junta as mãos, abaixa a cabeça e fala algo em voz baixa só para não parecer diferente dos colegas de jardim.

Bonito, Ângelo! Você pegou o meu texto e o voltou contra mim! Para um não-religioso você me espanta um pouco. Quer que eu estude religião enquanto você mesmo não estuda ciência. A diferença é que os teólogos escreveram mais volumes que todos os cientistas do mundo reunidos e não criaram nada, absolutamente nada que se aproxime ao que chamamos mundo real e que pudesse ter qualquer aplicação prática. Isso para mim é mais do que suficiente para rejeitar a disciplina, não acha? As religiões são absurdas e contraditórias. Umas são mais óbviamente idiotas, outras travestem-se de algo complexo e misterioso. A verdade é uma só: nenhuma suporta o mais mínimo senso crítico, o mais banal dos exames. Merecem ser ridicularizadas pelo simples fato de que são ridículas. Como disse o grande teólogo e santo católico Tomás de Aquino:

“Pois é muito mais grave corromper a fé, da qual vem a vida da alma, que falsificar dinheiro, pelo qual a vida temporal é sustentada. Logo, se falsificadores e outros malfeitores são imediata e justamente executados pelos príncipes temporais, com muito mais justiça podem ser hereges, assim que denunciados, não apenas excomungados mas também mortos.”


Está aí um belo exemplo homologado pela igreja católica.

Não preciso falar mais nada, preciso?

2008-02-25

Que país importante, Cuba!

Vendo tudo o que se diz na mídia internacional a respeito de Cuba, nem parece que é uma porcaria de ilhota comandada por um ditador de segunda categoria que praticamente morreu e empurrou o comando para um velho esclerosado, que por coincidência é o irmão. A BBC chama Fidel respeitosamente de "líder", louvam-se as "conquistas sociais". Que "conquistas" são essas numa ilha que raciona até sabonete - como comentou uma vez um amigo que esteve lá.

A vergonha mais gritante para Cuba é que o Chile está em uma situação muito melhor. Por quê? Por causa de duas coisas: Democracia e Capitalismo. Cuba não tem nem uma, nem o outro. É por isso que se encontra afundada na lama eterna.

Para ler mais a respeito recomendo este artigo, "A Renúncia de Fidel" e este outro, "Quais Conquistas Sociais?", de Rodrigo Constantino.

2008-02-22

Mais Argentina

Já estou de volta à minha querida Australia. Visto daqui, é impressionante verificar quão pouco faz falta para que países como a Argentina e Brasil vão para a frente. Uma pitada de liberalismo econômico, outra pitada de respeito às leis... Não é necessário mais 'jeitinho', mais inventividade. Tudo o que acontece nesses países é devido à não execução de leis, fomentada pelos próprios governantes que seriam as primeiras vítimas de leis sendo cumpridas. Lula, por exemplo, não estaria no xadrez por corrupção ativa e passiva, e por roubo? Não teria sido expulso do governo já no 'mensalão'? O Congresso não teria ficado desfalcado com pelo menos um terço dos integrantes presos?

Recebi um interessante comentário de Fábio Cordeiro, que mora em Mar del Plata, sobre o meu post da chuva de lixo. Vejam o que ele diz, em azul:

Zappi, eu vivo na Argentina, Mar del Plata pra ser mais preciso, e sei bem do que vc tá falando. Mas, se me permite, queria só fazer uma ressalva: os cartoneros,em si, nao tem culpa de ser o que sao, sem o mínimo de estudos ou, melhor ainda, sem o mínimo de nada, é o que sobra mesmo pra essa gente (no Brasil, me lembro bem, o quente sao as latinhas). O problema está em que minha querida presidenta pinguina faz, que é perpetuar a miséria dando subsídios pra essa gente quando, acho eu, deveria era fazer com que os filhos fossem pra escola, dessem assistência médica, ajudassem os cartoneros a aprender alguma profissao que estivesse em falta, os ajudasse a inserir no mercado de trabalho. Daí, poderiam caminhar sozinhos. Mas, vaya saber para que querem perpetuar a miséria, né? Seguramente, nao é para que possam sempre dizer que justamente existem pra acabar com isso tudo que está aí...

Uma informaçao adicional: o prefeito de Buenos Aires recém empossado, é o Macri, antigo presidente do Boca. Ele é claramente de direita, o que prova que, pelo menos os portenhos (os que sao de Buenos Aires) já nao suportam mais os populistas. Há um pouco de esperança no ar, acredite.

Abraços.
Fabio Cordeiro


Obrigado pelo comentário, Fábio. Concordo em geral com o que você diz. Entretanto acho que em parte os "cartoneiros" tem culpa de ser o que são. Especialmente quando tem dúzias de filhos. Não se pode tratar um miserável como inimputável. Ele comete um crime quando traz dezenas de pequenos miseráveis ao mundo. A "presidenta" só comete outro quando se aproveita da situação com fins eleitoreiros e para mostrar como é "boa".

Quanto ao Macri, vamos ver o que ele faz. A reação de Buenos Aires é tardia, mas talvez dê certo. Se o Macri for um desses "direitistas" clássicos, estilo Reinaldo Azevedo, católico, contra o aborto, camisinha e pílula... o tiro vai sair pela culatra. A miséria continuará aumentando. Espero que não seja assim!!!

Uma condição incurável

Será tão grave assim? Obrigado pelo vídeo, Elias!

2008-02-20

O dia em que choveu lixo... e a volta do idiota latino

Fidel é o primeiro ditador do mundo que renunciou após ter morrido. Na verdade, a morte cerebral de Fidel ocorreu há muito tempo, quando lançou a sua "revolução". Cuba costumava ser conhecida como o prostíbulo dos Estados Unidos. Agora, após o tratamento que Fidel dispensou à ilha, Cuba tornou-se o prostíbulo do... Mexico. Os mexicanos fazem a farra lá. Os americanos até que gostariam de continuar usando os serviços sexuais abundantes e baratos da ilha, mas o seu governo impede. Há que se ter paciência para ler os jornais brasileiros e latino-americanos elogiando as magníficas condições de saúde pública e mortalidade infantil da ilha da miséria, cujos habitantes querem sempre fugir, nem que seja a nado. Tem até artigos elogiando, imaginem, a "visão" do grande líder... por ter renunciado! Quanto despojamento! Quanta nobreza!

O lixo a que me refiro no título deste post é outro, apesar de ter relação com este. Quero contar o que me aconteceu quando eu estava andando pela calle Corrientes, em Buenos Aires. Só quem conhece a cidade sabe a quantidade de imbecilidades que o populismo porteño tem criado nos últimos anos. Uma das legítimas criações argentinas são os "piqueteros", grupos de vagabundos que fecham ruas e cobram pedágio para passar. O governo os reconheceu como "movimentos sociais" e lhes paga uma espécie de salário. Não faz nem falta explicar que após tal ato de generosidade do governo argentino o número de piqueteiros só aumentou.

Ultimamente os piqueteros estão meio fora de moda. Agora o "quente" é ser "cartonero". Este novo grupo de pressão política consiste em miseráveis que remexem o lixo da cidade em busca de pedaços de cartolina. O governo argentino, entusiasmado, decidiu recompensar também estes heróis com um salário mensal. Hoje acodem de diversos países latino-americanos milhares destes arrojados empreendedores que carregam cartolina em carrinhos de mão ou burro. Os "cartoneros" carregam crianças pequenas no colo, varam a noite rasgando sacos de lixo e catando cartolina. Também separam sprays de desodorante semi-usados para vender no mercado negro... mais uma invenção do establishment empreendedor à beira do "Rio de la Plata".

O pequeno problema que me aconteceu foi no momento que os lixeiros - os legítimos da prefeitura - recolhiam os sacos de lixo à noite. Os sacos rasgados eram jogados no caminhão e o vento levantava detritos que choviam abundantemente nos pedestres e nos carros.

Uma chuva de lixo real, triste metáfora que simboliza o que acontece ainda hoje na mente destruída do idiota latino.

2008-02-16

Vantagens do governo Lula


Não se espante, caro leitor. Descobri que o governo Lula, com todas as suas falcatruas e nojeiras, está fazendo bem ao Brasil. Os resultados não serão visíveis imediatamente, mas as consequências serão favoráveis ao bem-estar econômico da população do país que o Lula está ajudando a criar.

Acontece que o asco criado por figuras como o Lula e o seu filho é tão grande que leva a população brasileira a fazer algo que sempre relegou a segundo plano. Ninguém quer ser analfabeto como o Lula e ter que roubar como o Lulinha. As pessoas querem ter dignidade. O que fizeram? Estão começando a estudar, com vontade.

Sim, tenho provas. Vejam abaixo o número de vistos de estudante concedidos a alunos brasileiros na Austrália. Os brasileiros não querem ser como o Lula e o Lulinha - estão fazendo o possível para estudar no exterior... Ou talvez queiram ficar o mais longe possível destes asnos, para evitar contaminação... e a Australia é bem longe!

Clique no gráfico para ampliar:

2008-02-01

Delírios de uma alma confusa

Meu primeiro contato com religião foi na escola. A professora mandava rezar antes do lanche. Todos os meus coleguinhas juntavam as mãos, abaixavam a cabeça e falavam algo em voz baixa. Eu não tinha idéia do era aquele estranho comportamento, mas por via das dúvidas fazia o mesmo. Nenhuma criança de 5 anos quer parecer diferente de seus colegas de jardim.

Sim, eu me sentia um pouco hipócrita. Óbviamente para eles aquele ritual era importante, mas para mim não fazia sentido algum. Pensei que o melhor era não discutir: até a professora fazia parte dessa estranha e para mim um pouco macabra seita.

À medida que ia crescendo notei que havia uma religião preponderante ao meu redor, que chamavam a si mesmos de "católicos". Havia entretanto outras diferentes, como os judeus, que tinham hábitos e rituais distintos. O assunto parecia-me cada vez mais divertido. Uma das semelhanças entre os judeus e os católicos era que ambas se diziam monoteístas: tinham um único deus. Entretanto os católicos eram mais confusos: também tinham Cristo e um tal de Espírito Santo. Um que são três... interessante. Outra coisa que achei interessante é que o deus de um não parecia ser o deus dos outros, e alguns católicos acusavam os judeus de terem matado um de seus deuses, que era "o" deus, apesar de que esse deus morto era um judeu. Eu estava um tanto confuso mas intuí qual o problema: tanto os judeus como os católicos estavam inventando histórias sem pé nem cabeça. Não havia nenhuma dúvida.

Cada vez que um religioso se manifesta sobre a sua religião essas contradições aparecem. É inevitável. Quanto mais inteligente o religioso, mais elaboradas as suas considerações e mais difíceis de enxergar as contradições. Mas não tem jeito, a falta de nexo estará sempre presente em qualquer consideração que possa se proclamar religiosa.

No fundo eu não acredito que ninguém acredite de verdade em todas essas besteiras. Em minha opinião, a religião funciona um pouco como a minha reza do jardim de infância: as pessoas fazem o que as outras ao seu redor fazem, sem discutir. Quando esse hábito chega à idade adulta, não há mais nada a fazer. A criança tímida se transformou em um adulto religioso.

Para ilustrar a minha opinião, peguei um artigo de Reinaldo Azevedo, onde ele discute o problema do carro alegórico "nazista" que foi proibido. Vejam o texto de Reinaldo em vermelho e meus comentários em azul.

Uma das grandes tarefas do humanismo judaico, especialmente depois da Segunda Guerra, foi demonstrar que o Holocausto não foi um problema privado dos judeus: tratou-se de um crime contra a humanidade. É evidente que os judeus foram os primeiros atingidos, e que a tragédia colheu seis milhões dos seus, destruindo famílias e marcando de forma indelével a história de um povo. Mas a tragédia, reitero, é humana.

Aqui aparece o primeiro dos problemas. Para quem o assassinato de milhões de pessoas não seria uma tragédia humana? A desumanização dos judeus se deve à separação a que aludi no início: os católicos por um lado, os judeus por outro. Nós e eles. Eles e nós. Diferentes. Eles mataram nosso deus... acho que vocês já entenderam de onde vem o problema, não?

Afirmar, como estão fazendo alguns, que o carro alegórico da Viradouro fazia a apologia do nazismo é um exagero tolo. Mau gosto? Sem dúvida. Mas não dá para censurar alguém só porque o consideramos tolo ou superficial.

Razoável. Concordo com o mau gosto do tratamento do tema do genocídio de milhões de pessoas em um carro alegórico. Só de pensar me vira o estômago. Concordo também que não deveria ser censurado. As pessoas com um pouco de senso de humanidade reagiriam a semelhante monstruosidade e rejeitariam a escola de samba, sem dúvida.

Claro, há cretinos para todos os gostos. O analfabetismo corre solto. Se não me engano, escrevi que é um direito da tal federação judaica recorrer à Justiça. Sempre é. Pergunto-me é se a decisão foi a melhor. E acho que não foi. A obra definitiva que serve de referência a este debate é Eichmann em Jerusalém, da grande, da monumental Hannah Arendt – sim, uma judia.

"Eles e nós..." Os "judeus" tem direito de recorrer à justiça, mas a decisão de proibir não foi a melhor. O juiz Reinaldo explica o seu veredicto. Este é o caso número 1.

Trata-se, como o subtítulo indica, um ensaio sobre “a banalidade do mal”. Adolf Eichmann pertencia a uma maquinaria ideológica assassina, Mas também era a face rotineira do horror. Para citar Musil, Eichmann e os seus matavam como diz: “Hoje é sexta-feira”. E os judeus foram suas principais vítimas, mas não só eles: também os ciganos, os homossexuais, os deficientes, o liberais, os comunistas, os fracos. Hannah Arendt conseguiu captar a dimensão mais profunda e perigosa da intolerância.

Mas atenção: ela criticou o estado de Israel por ter raptado Eichmann, que estava escondido em Buenos Aires, levando-o para ser julgado em Israel. A ação foi feita à revelia do governo argentino. Os tontos que estão dizendo que estou assumindo posições anti-semitas talvez fizessem a mesma acusação a Hannah Arendt. Compreendo. Em questões como essa, gente que normalmente não participa dos debates do blog acaba entrando para dar pitaco na causa militante. Estou acostumado a ser acusado de agenda da Mossad – é a primeira vez que dizem que sou anti-semita.


Concordo com Hannah. Ela está do lado dos "humanos". Ela entende que sequestrar alguém para levar ao tribunal "deles" tem como efeito a separação entre "nós e eles", o mesmo efeito que causou o problema em primeiro lugar. Crimes contra a humanidade são crimes contra a humanidade.

Há três dias, recuperei aqui o caso do abaixo-assinado contra Nelson Ascher, que deu um merecido pau no livro Orientalismo, de Edward Said (procurem no arquivo). Os estúpidos acusaram Ascher, vejam só, de “racismo”. Afinal, ele é judeu e criticou um intelectual palestino que sempre piscou um olho para o terrorismo palestino. Esse negócio de “racializar” ou “etnizar” o debate é o caminho certo para a estupidez, para a burrice, para o sectarismo mais vagabundo. A grande conquista do humanismo judaico, reitero, é ter deixado claro que o Holocausto foi um crime contra a humanidade. Assim como foi um crime contra o homem o massacre dos armênios pelos turcos.

A federação israelita pode e deve protestar caso se julgue ofendida. E também pode e deve recorrer à Justiça se julgar que direitos estão sendo agredidos. A Justiça é que tem de ter bom senso.


"Eles" podem reclamar caso se julguem ofendidos. Ou o holocausto é um crime contra a humanidade ou é um crime contra "eles". Não acho que "O holocausto é nosso" por parte de uma seita qualquer possa fazer parte de uma boa campanha para mostrar que o holocausto foi, sim, um crime contra a humanidade. Eu sou a favor do veredicto do juiz Reinaldo no Caso número 1.

Princípio
A Igreja Católica já protestou contra o uso da imagem do Cristo em Carnaval. Pode protestar o quanto quiser. Se a escola sair defendendo a crucificação como modo de resolver divergências, acho que é o caso de proibir a apologia da estupidez.


Proibir a "apologia da estupidez"? Por quê? O juiz Reinaldo é a favor da livre expressão, menos a dos estúpidos? Há um detalhe, esta estupidez em particular roça em suas convicções religiosas, lembrem que a cruz lhe é sagrada.

Mas o Cristo não pertence à Igreja Católica. Pertence à história.

Boa forçada de barra. Cristo pertenceria à história se tivesse existido. Há considerável dúvida sobre este assunto. Os primeiros cristãos aceitavam Cristo como um mito a ser reverenciado, não como uma certeza histórica. Mas deixemos este assunto por enquanto, o melhor de Reinaldo está por vir.


Quando um pastor neopentecostal chutou a imagem de Nossa Senhora, defendi que fosse em cana.

Caso número 2: juiz Reinaldo condena à prisão pastor de seita concorrente, e por expressar algo simples: "Isto não é sagrado, é só um pedaço de gesso". Se isso não é liberdade de expressão é o que?

Como acho que essa mesma seita deva ser processada quando demoniza as religiões de origem africana. Uma coisa é fazer o elogio da intolerância; outra, diferente, é expô-la, ainda que de forma estúpida.

Caso número 3, juiz Reinaldo condena novamente seita concorrente à sua por demonizar religiões de origem africana. Aqui, travestido de multiculturalista, novamente ataca uma religião que coicidentemente arranca fiéis do catolicismo. Hum... como é tolerante e multicultural este juiz.

Todos já me leram aqui combatendo as teses abortistas, a eutanásia e a pena capital. Acho que tudo isso compõe a chamada “cultura da morte”, muito comum em nosso tempo – quase sempre amparada em teses que chamam “científicas”.

Pelo menos colocou a palavra 'científicas' entre aspas. Coincidentemente tudo o que ele chama de "cultura da morte" se refere aos dogmas... da sua própria seita, a dos católicos. Sim, aquela seita que proíbe a camisinha. Aqui Reinaldo desligou completamente o próprio cérebro: está simplesmente repetindo os dogmas que aprendeu desde pequeno.

Mas nunca ninguém me viu e me verá a defender o que eu chamaria de “ação direta”: o esforço para silenciar os que pensam de modo diferente. Sou duro, sim; não escondo jamais o que penso; prego a clareza; repudio estes tempos em que todos os gatos querem ser pardos. Não sou do tipo que concede com o que não concorda para ser simpático e, mais adiante, ganhar adeptos. Mas não tentem me pegar namorando com a censura, por mais nobres que sejam os objetivos.

Se não fossem seus veredictos 2 e 3, o juiz Reinaldo teria me enganado. É claro que ele quer silenciar quem pensa diferente dele. Ele quer prender uma pessoa que chutou um pedaço de gesso. Tudo porque pertence a uma seita diferente da dele. Se isso não é censura, não sei como se chama. Eu diria até que é perseguição religiosa. Reinaldo pode tentar à vontade, mas não há maneira de conciliar todas as religiões, não há maneira de que uma não "ofenda" a outra. A simples menção de Cristo ofende os muçulmanos, e ofenderia os judeus se eles dessem pelota. A verdade é que os religiosos, no melhor dos casos, se toleram. Se lhes fosse dado poder, eles o usariam... contra as outras religiões. Reinaldo é uma prova disso.

O resultado mais nefasto do agrupamento de pessoas em religiões é a separação entre "nós e eles". Os católicos e os protestantes. Os muçulmanos e os infiéis. Os cristãos e os judeus. O que é triste é que estas separações não são reais. As pessoas estão separadas por histórias inventadas e, vamos ser sinceros, um tanto idiotas. Esta separação torna as pessoas menos humanas.

Mas cá entre nós, até que tivemos sorte. A sorte é que os pais do Reinaldo eram católicos. Isso fez de Reinaldo... um católico. Podia ter sido pior. Imaginem que os pais de Reinaldo tivessem sido muçulmanos islâmicos. Ele estaria hoje defendendo os jihadistas, gritando a favor da morte aos apóstatas e torcendo para que a lei sharia fosse finalmente adotada pelo Brasil, convertendo o país em uma virtuosa teocracia islâmica. Do jeito que está é melhor, convenhamos.