2006-04-21

The Coffee Plunger

Um bom café de manhã cedo. Era só o que ele buscava. Recém chegado, estava cansado do instantâneo, rápido, constante mas sem graça. Algumas semanas de estadia o fizeram buscar o óbvio, uma máquina, um filtro de papel...

O mercado tinha sido um achado... as bancas de frutas, os queijos e os patês... azeitonas e tomates secos, as carnes, aves, manteiga a granel. As mesas na calçada, as vitrines do café à francesa. Mas não encontrou o que esperava. Existe, mas não temos. Esta máquina de expresso... não, não, só queria uma máquina de café, até a velha meia serviria... como pode ser que não existisse? O homem da loja sacode a cabeça: não temos. Afinal de onde você vem? Não sabe como faz café?

Paciente, ele finge não saber. Talvez fosse a melhor maneira de descobrir, pensa. O homem, incrédulo, mostra muitas caixas. Diferentes formatos e tamanhos, uma infinidade de variedades e estilos: Plunger... Plun-ger. Coffee Plun-ger.

Nunca havia visto algo assim. Desconfiado escolheu o menor, o mais barato. Como se usa? O homem olha intrigado. Afinal responde de má vontade: põe o pó aqui, água quente, e a tampa. Espera um pouco, pressiona o embolo e serve. Uma moça na loja começa a rir. O homem fica com raiva, tinha que atender os outros clientes. Parece fácil, pensa ele e leva o plunger para casa. No caminho, para em um mercado para comprar café. Encontra um, moagem especial para plunger. Que seja.

Uma vez em casa, abre o pacote. Trazia como brinde mais café, especial para plunger... e um manual de instruções. Estava desmontado, mas uma foto na caixa não deixava dúvida de qual a aparência da coisa. Um ar vitoriano... tornado óbvio pela palavra "Vittoria" escrita no vidro em letra cursiva. Um corpo cilíndrico de vidro, um becker alto, emoldurado em uma grade dourada. Como apoio quatro pernas de chapa dobrada em forma circular protegiam o fino vidro do copo.

Esquentou a água, pôs o pó e depois a água quente. Imediatamente o aroma familiar encheu a cozinha. Nessa manhã o sol entrava forte pela janela, iluminando o vitoriano copo. Podia ver os grãos nervosos, subindo... descendo... subindo junto com uma espuma escura e tímida. Que cor bela, indecidida entre o vermelho e o dourado, tons de marrom que simpatizavam com a moldura. Decidiu bater o plunger delicadamente na pedra da mesa. Que perfeito amortecimento os pés redondos forneciam! A vibração levantava uma espuma clara enquanto os grãos desciam lentos. Hora da ação: pôs a tampa e baixou lentamente o pistão. Os grãos se aglomeravam em uma fina grade no êmbolo, filtrando o líquido, de baixo para cima, a resistência aumentando por causa do acúmulo de grãos, que filtravam ainda melhor. Que equipamento interessante!

Perdeu a conta de quantas vezes repetiu o processo nessa manhã. Cada vez de forma ligeiramente diferente, esperando mais ou menos, batendo ou não na mesa, força no êmbolo ou deixando descer lentamente. À medida que se deixava encantar pelas cores e aromas a certeza: nunca gostaria mais de nenhum outro plunger: aquele era o perfeito, ancestral de todos os demais e nunca superado. O brilho do sol só se encarregava de queimar a imagem perfeita em sua retina, garantir que a sensação nunca se perdesse.

Mais tarde, no bonde, fechou os olhos e ainda via os grãos iluminados pelo sol da manhã. O suave movimento das cores e a lembrança dos aromas fizeram-lhe companhia pelo dia inteiro. Quando o sol estava se pondo, tingindo as nuvens de tons pastel teve uma idéia: voltaria para casa e escreveria, escreveria sobre o plunger.




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