Os cientistas são um grupo excepcional. Minoria absoluta no mundo, talvez menos de 0,1% da população global, detêm praticamente um monopólio do conhecimento científico. Em sua maioria ateus, encontram na pesquisa científica e no lento avançar da ciência a satisfação de sua curiosidade intelectual, de suas inquietudes. Tive a sorte de conhecer alguns de perto, de entender a sua mente inquisidora, a sua sede de conhecimento e de saber.
Este grupo seleto gera praticamente toda a tecnologia na qual a sociedade moderna se apoia. Trilhões de transístores cuidadosamente ajustados e colocados em seus lugares permitem fazer com que o que escrevo na Austrália seja lido em qualquer lugar do mundo, em segundos. Há menos de 40 anos isso seria considerado um milagre, hoje é só mais uma corriqueira manifestação da ciência e tecnologia.
Mais mérito ainda tiveram os primeiros cientistas. Galileu Galilei, considerado o fundador do método experimental moderno com suas medições da velocidade da queda dos corpos, constituía parte de uma elite minoritária ainda mais impressionante que os cientistas de hoje. Por que ainda se fala de Galileu? Por que ele é um herói? Simplesmente porque estava certo pelas razões certas. Uma pessoa certa vale muito mais do que um bilhão de pessoas erradas.
Existe ainda um componente importante no heroísmo de Galileu, que terminou seus dias preso pela polícia religiosa católica, hoje extinta. Galileu era um grande comunicador e, mesmo estando proibido e ameaçado de tortura e morte, falou o que pensava.
Sir Isaac Newton, nascido no ano da morte de Galileu, apesar de ter sido talvez o maior gênio que a humanidade já teve, não tinha a habilidade comunicativa de Galileu. Os textos de Newton são secos, precisos, de uma lógica impecável mas, infelizmente, imperscrutáveis para os não iniciados. Por este mesmo motivo, não despertava muitas simpatias pessoais. Entretanto ele estava certo, e isso também fez dele um herói da humanidade.
Galileu era diferente: ele queria divulgar as idéias científicas para o maior número possível de pessoas. Pode-se dizer que foi o primeiro divulgador científico. Mesmo preso, arranjou o contrabando de seu maravilhoso livro ("Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze" clique aqui para comprar) que é considerado hoje por muitos o primeiro tratado de física. Escrito em forma de diálogos com três interlocutores, expõe claramente muitas das falácias de pensadores gregos, com os quais a igreja estava alinhada. O livro foi levado para a Holanda, um país que não estava sob a influência da polícia religiosa católica, e foi traduzido para diversas línguas. É sabido que Newton teve contato com ele.
Os cientistas de hoje descobrem curas para doenças, tornam a vida mais longa, desenvolvem computadores que prevêm o tempo, estudam maneiras de alimentar eficientemente a gigantesca quantidade de pessoas que, com a tecnologia de apenas 50 anos atrás, estariam morrendo de fome hoje. Entretanto os cientistas secretamente escondem um pecado, um pecado gravíssimo que pode custar à humanidade mais vidas que as perdidas em todas as guerras de toda a História.
Hoje, seguindo a tradição de Newton, os cientistas escrevem textos herméticos e secos, que não chegam aos não iniciados. Pouquíssimos dedicam um pouco de seu tempo à divulgação de ciência básica, à catequização de mentes infantis, hoje expostas a um sem-número de estúpidas idéias metafísicas inventadas pela igreja e por enganadores de todas as cores e credos. Os cientistas consideram estas atividades de divulgação uma perda de tempo.
Eu presenciei muitas vezes conversas de religiosos com cientistas. Quando o cientista cético percebe que está falando com um religioso, limita-se a concordar com a cabeça, tentando a todo custo não contrariar os dogmas mais bizarros. O cientista trata o religioso como se fosse um maluco: procura não contrariá-lo. Este é o grande pecado: um cientista, com seu compromisso com a verdade, deve discordar, argumentando lógicamente contra o dogma religioso ou da crendice supersticiosa. Quando não o faz está cometendo um ato covarde, está evitando o confronto e permitindo à mentira crescer e ganhar força.
Galileu discutiu com a inquisição e foi condenado. Cada cientista que evita o confronto com os ignorantes não está à altura da memória de Galileu: ainda que individualmente e perante os seus pares esteja fazendo a ciência progredir, a força destrutiva da ignorância é capaz de pôr tudo a perder. E hoje em dia a ignorância ganha força utilizando as ferramentas criadas... pela ciência!
A discussão com argumentos lógicos é fundamental. A educação científica básica deve ser prioridade. Cada pequenino ponto é importante, desde a descrição do funcionamento das células até as leis de funcionamento do cosmos. Todos os cientistas do mundo deveriam separar um décimo do seu tempo para estas atividades, interagir com as pessoas, entender e dirimir-lhe as dúvidas. Também devem mostrar que é razoável duvidar, que não saber não é um problema grave e que, assumindo a própria ignorância, pelo menos têm-se uma base para o progresso.
Essas discussões com religiosos muitas vezes terminam em uma pergunta, feita com um sorrisinho hipócrita no rosto, com um ar de deboche de quem sabe que não terá uma resposta satisfatória:
-Ah, seu sabichão! Então me diga o que aconteceu antes da criação do universo? Quem causou o "Big Bang"? Vai me dizer que não foi Deus?
Ao que o verdadeiro cientista responderia:
-Eu não sei o que aconteceu há mais de 10 bilhões de anos, eu não sei o que aconteceu antes do "Big Bang". Entretanto, ninguém sabe e você também não. O dia que você tiver uma resposta coerente, lógica e não inventada, eu serei o primeiro a acreditar.
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Pediria a todos os leitores que conhecerem um cientista que mandassem um link para este post. Usem o envelopinho abaixo. Quem tiver interesse em ler a condenação de Galileu pelo Papa, há uma cópia aqui (em Inglês). Clique na capa abaixo para comprar o livro de Galileu:
Este grupo seleto gera praticamente toda a tecnologia na qual a sociedade moderna se apoia. Trilhões de transístores cuidadosamente ajustados e colocados em seus lugares permitem fazer com que o que escrevo na Austrália seja lido em qualquer lugar do mundo, em segundos. Há menos de 40 anos isso seria considerado um milagre, hoje é só mais uma corriqueira manifestação da ciência e tecnologia.
Mais mérito ainda tiveram os primeiros cientistas. Galileu Galilei, considerado o fundador do método experimental moderno com suas medições da velocidade da queda dos corpos, constituía parte de uma elite minoritária ainda mais impressionante que os cientistas de hoje. Por que ainda se fala de Galileu? Por que ele é um herói? Simplesmente porque estava certo pelas razões certas. Uma pessoa certa vale muito mais do que um bilhão de pessoas erradas.
Existe ainda um componente importante no heroísmo de Galileu, que terminou seus dias preso pela polícia religiosa católica, hoje extinta. Galileu era um grande comunicador e, mesmo estando proibido e ameaçado de tortura e morte, falou o que pensava.
Sir Isaac Newton, nascido no ano da morte de Galileu, apesar de ter sido talvez o maior gênio que a humanidade já teve, não tinha a habilidade comunicativa de Galileu. Os textos de Newton são secos, precisos, de uma lógica impecável mas, infelizmente, imperscrutáveis para os não iniciados. Por este mesmo motivo, não despertava muitas simpatias pessoais. Entretanto ele estava certo, e isso também fez dele um herói da humanidade.
Galileu era diferente: ele queria divulgar as idéias científicas para o maior número possível de pessoas. Pode-se dizer que foi o primeiro divulgador científico. Mesmo preso, arranjou o contrabando de seu maravilhoso livro ("Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze" clique aqui para comprar) que é considerado hoje por muitos o primeiro tratado de física. Escrito em forma de diálogos com três interlocutores, expõe claramente muitas das falácias de pensadores gregos, com os quais a igreja estava alinhada. O livro foi levado para a Holanda, um país que não estava sob a influência da polícia religiosa católica, e foi traduzido para diversas línguas. É sabido que Newton teve contato com ele.
Os cientistas de hoje descobrem curas para doenças, tornam a vida mais longa, desenvolvem computadores que prevêm o tempo, estudam maneiras de alimentar eficientemente a gigantesca quantidade de pessoas que, com a tecnologia de apenas 50 anos atrás, estariam morrendo de fome hoje. Entretanto os cientistas secretamente escondem um pecado, um pecado gravíssimo que pode custar à humanidade mais vidas que as perdidas em todas as guerras de toda a História.
Hoje, seguindo a tradição de Newton, os cientistas escrevem textos herméticos e secos, que não chegam aos não iniciados. Pouquíssimos dedicam um pouco de seu tempo à divulgação de ciência básica, à catequização de mentes infantis, hoje expostas a um sem-número de estúpidas idéias metafísicas inventadas pela igreja e por enganadores de todas as cores e credos. Os cientistas consideram estas atividades de divulgação uma perda de tempo.
Eu presenciei muitas vezes conversas de religiosos com cientistas. Quando o cientista cético percebe que está falando com um religioso, limita-se a concordar com a cabeça, tentando a todo custo não contrariar os dogmas mais bizarros. O cientista trata o religioso como se fosse um maluco: procura não contrariá-lo. Este é o grande pecado: um cientista, com seu compromisso com a verdade, deve discordar, argumentando lógicamente contra o dogma religioso ou da crendice supersticiosa. Quando não o faz está cometendo um ato covarde, está evitando o confronto e permitindo à mentira crescer e ganhar força.
Galileu discutiu com a inquisição e foi condenado. Cada cientista que evita o confronto com os ignorantes não está à altura da memória de Galileu: ainda que individualmente e perante os seus pares esteja fazendo a ciência progredir, a força destrutiva da ignorância é capaz de pôr tudo a perder. E hoje em dia a ignorância ganha força utilizando as ferramentas criadas... pela ciência!
A discussão com argumentos lógicos é fundamental. A educação científica básica deve ser prioridade. Cada pequenino ponto é importante, desde a descrição do funcionamento das células até as leis de funcionamento do cosmos. Todos os cientistas do mundo deveriam separar um décimo do seu tempo para estas atividades, interagir com as pessoas, entender e dirimir-lhe as dúvidas. Também devem mostrar que é razoável duvidar, que não saber não é um problema grave e que, assumindo a própria ignorância, pelo menos têm-se uma base para o progresso.
Essas discussões com religiosos muitas vezes terminam em uma pergunta, feita com um sorrisinho hipócrita no rosto, com um ar de deboche de quem sabe que não terá uma resposta satisfatória:
-Ah, seu sabichão! Então me diga o que aconteceu antes da criação do universo? Quem causou o "Big Bang"? Vai me dizer que não foi Deus?
Ao que o verdadeiro cientista responderia:
-Eu não sei o que aconteceu há mais de 10 bilhões de anos, eu não sei o que aconteceu antes do "Big Bang". Entretanto, ninguém sabe e você também não. O dia que você tiver uma resposta coerente, lógica e não inventada, eu serei o primeiro a acreditar.
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Pediria a todos os leitores que conhecerem um cientista que mandassem um link para este post. Usem o envelopinho abaixo. Quem tiver interesse em ler a condenação de Galileu pelo Papa, há uma cópia aqui (em Inglês). Clique na capa abaixo para comprar o livro de Galileu:
4 comentários:
Zappi,
Os cientistes que conheço estão em varios setores e atualmente o que é mais facil e corresponde a seu post, seria o site do Centro Espacial Europeu e se você permitir que eu "roube" seu post pra colocar la no blog... evidente com toda indicação do seu blog...
P.S:volto estou de saida....
Zappi, a argumentação sobre cientistas e suas crenças já foi debatido a exaustão.
Imagine-se na empresa e no desafio de um novo projeto, voce vira para seu chefe e fala: está nas mãos de deus.
Ou ainda, o médico irá operar o paciente e a familia recebe a máxima: está nas mãos de deus.
O assunto é redundante e sempre haverá aqueles que se permitem creditarem o todo a sua volta com simplicidade: foi deus que criou.
E não chegaremos a lugar comum.
Bira, é simples: não existe lugar comum. Ou é verdade ou não.
Simples assim. Quem quiser voltar à era dos curandeiros, esteja à vontade. Que depois não reclame se não se curou...
Pelo andar da carruagem, parece que voltaremos aos tempos da inquisição e dos feudos.
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