Entre as muitas distorções intelectuais comuns no país das bananas, há uma que me irrita especialmente. Esta distorção é tão grave que acredito que seja uma das causas principais do baixo crescimento econômico de um país que deveria estar entre os maiores do mundo. Essa distorção deriva do uso errôneo da palavra "preconceito".
Pelo fato do brasileiro ser o resultado de uma incrível mistura de raças e origens nacionais sempre existiu o receio de que conflitos raciais surgissem e impedissem a convivência pacífica. Nunca houve um sistema de castas como o que perdura até hoje na India ou um regime de segregação forçada como o imposto pelo governo na Africa do Sul. O país das bananas sempre se caracterizou pela mistura. Uma vantagem é a diminuição de problemas raciais. Se o seu pai é negro e sua mãe é japonesa você não tem motivo para ter preconceito contra estas etnias.
Infelizmente, a miscigenação brasileira também se deu por permissividade excessiva. Talvez isso venha dos senhores de engenho que engravidavam as escravas, ou dos portugueses com as índias... A grande festa do carnaval é só o resultado: um festival do pode-tudo.
Eu nem reclamo de tudo isso. O que eu realmente abomino é o fato desta permissividade gerar filhos. Necessariamente filhos sem família. Estes quase certamente estão em desvantagem: uma família tende a ajudar os filhos a melhorar, pais de verdade sempre querem que os filhos cresçam e se desenvolvam mais do que eles próprios puderam ou ousaram. Colocar filhos no mundo dessa forma descarada e irresponsável é uma atitude criminosa.
Os filhos sem família geram um contingente enorme de deseducados. Educação custa dinheiro. E prestem atenção: não faz diferença se esse dinheiro vem do Estado ou do próprio bolso! Isto porque o dinheiro do Estado é, em última instância, o dinheiro do próprio bolso: em um país pobre, o Estado não terá recursos suficientes. É claro que em uma sociedade desigual como a nossa o Estado pode ajudar, facilitando o acesso universal à educação básica. Mas a Banânia (obrigado ao Reinaldo Azevedo pela expressão) não é rica e desigual. É pobre e desigual. Por que é tão desigual? Por causa do motivo acima: sem família não há valores e nem incentivo à melhora. Alguns crescem e os outros afundam.
Volto ao preconceito. Muitas atitudes são taxadas de preconceituosas, sem que se pense duas vezes sobre o que isto significa. O próprio presidente usa e abusa do termo em benefício próprio, baseando-se no fato de que teve origem pobre e seus pais não estudaram. As leis do Brasil citam preconceito relacionado com "origem" sem especificar o que isso significa realmente.
A palavra preconceito significa pré-julgamento. É uma definição ampla. Vou citar um exemplo, só para ilustrar melhor. Imagine que temos que contratar um funcionário, cuja função será responder a e-mails de clientes e direcioná-los aos canais apropriados dentro da empresa. É estabelecido que os candidatos tem que fazer uma prova na qual são avaliados os conhecimentos de Português. Em teoria poderíamos ser chamados de preconceituosos quando eliminamos os que não sabem redigir uma carta. Entretanto contratar os que não sabem redigir implica em escolher os que muito provavelemente se sairão pior na posição. O fato de que esta escolha causará dano à companhia e o fato de tentarmos de uma maneira razoável verificar se o funcionário está à altura do cargo leva à conclusão que não houve preconceito quando escolhemos os melhores em redação. Estamos minimizando as chances de a empresa ter um prejuízo com funcionários incompetentes.
Poderíamos taxar de preconceito o fato de ser necessária uma prova para selecionar os alunos mais capacitados para cursar uma faculdade? Isso é preconceito? Não: só estamos utilizando os recursos da maneira mais racional. As vagas são limitadas e deixar os piores cursarem só torna o nível geral mais baixo. E o fato dos mais pobres, em média, não terem tido uma educação apropriada para passar na prova? É aí que a porca torce o rabo: a função do Estado deveria ser suprir condições mínimas para que os que querem se desenvolver o façam.
O que está contribuindo para afundar o Brasil é o que um malandro que é candidato ao emprego acima faz: acusa de preconceituoso quem levantar uma objeção contra ele. Diz algo como: "Seu preconceituoso! Só porque eu tive uma origem humilde você me impede de conseguir um emprego?"
A priori a origem não é questionada. O que é colocado em pauta é a capacidade de redigir. Se o fato do candidato ser de origem humilde torna impossível ou muito difícil que tenha aprendido Português corretamente, o problema não é da firma que o está contratando. O problema é dele. É ele que deve cobrar um melhor ensino básico, é ele que deve tentar melhorar a sua própria capacidade de expressão escrita. No lugar disso, ele grita: "Preconceito!"
O Lula se utiliza desta ferramenta malandra. Ele coloca os que não puderam ou não quiseram melhorar no mesmo patamar e se identifica com eles. Quem é que verifica se o indivíduo simplesmente não quis estudar? Quem separa o joio do trigo? O nosso presidente está mais próximo de quem não quis estudar do que de quem não pôde. Mas a malandragem dele fala mais alto.
Muitas vozes se levantam: "Preconceito!" Eu estaria expressando preconceito contra Lula, só porque ele não "teve condições" de estudar, só porque ainda não consegue ler direito. Preconceito por ter tido uma origem humilde, por ter sido torneiro mecânico.
Se eu alguma vez tivesse tido preconceito não importa mais. O que importa é que o Brasil o colocou à prova: fez dele presidente de um país com 200 milhões de habitantes. Se havia preconceito já não interessa. O que conta é que o Lula não passou na prova. Levou o país a uma crise moral sem precedentes. Encabeçou um esquema corrupto e se lambuzou no poder como ninguém antes dele. Beneficiou seus amigos e parentes. Ajudou a fazer do Brasil uma vergonha mundial.
Não quero saber a origem do Lula, já não faz a menor diferença de onde ele veio. O que importa é que ele não passou na prova. Na verdade, não só não passou, como mostrou de que material ele é feito. Já não faz sentido falar de preconceito.