2006-07-01

Passeio de sábado


Sábado de manhã em Melbourne. O vento é forte e a temperatura é de uns 9 graus. Ameaça chover, mas nunca fico com medo da chuva daqui. É quase sempre fininha e inconstante, mal molha. Decidimos que iremos até Portsea e depois andaremos até a abertura que chega à entrada da baía de Melbourne, para ver como é. Há um antigo forte e um museu. A Austrália sempre se sentiu isolada do mundo e a paranóia vigente no início do século 20 era de que invasões estrangeiras eram iminentes. Nunca ninguém nem tentou invadir exceto na segunda guerra, os japoneses, ao norte.

O caminho que percorremos, ao longo da baía, tem uns 100 quilômetros. Chegamos aqui, que é a entrada da baía. Note que o outro lado (Point Lonsdale) é bem próximo, mas só é accessível de carro fazendo a gigantesca volta de mais de 250 quilômetros, a menos que se pegue o ferry que vai de Sorrento a Queenscliff.

A costa aqui tem dois lados: o mar aberto e a baía. As ondas do mar aberto são por vezes imensas, e com o vento que soprava ontem, estavam verdadeiramente impressionantes. A boca da baía não é muito profunda, e as marés geram correntezas muito fortes ali. Nadar é proibido, pois é difícil saber aonde a corrente vai levar o pobre nadador.

Estou ficando acostumado com imensas praias desertas e rochedos vermelhos sendo golpeados pelas ondas azuis, a paisagem clássica do sul da Austrália. O tipo de pedra que existe aqui não é granítica, não suporta as ondas e vai cedendo e formando penhascos verticais instáveis, às vezes assustadores para quem está em cima.

Sempre gostei de mares agitados. O fato de nunca sabermos como a paisagem vai estar daqui a alguns segundos me fascina.

Caminhamos até a ponta, o forte. Um museu automático para os pouquíssimos visitantes: nos túneis escuros do forte as luzes se acendem disparadas por sensores de presença. Uma voz explica a situação no início do século... em 1888 um cabo telegráfico submarino que ligava Melbourne a Londres se rompeu. Um cabo tão longo, em 1888? Acho incrível. Era o único canal de comunicações da Austrália com o resto do mundo. Nesse momento os militares australianos entram em pânico: invasão iminente. Falta total de informações do mundo exterior... paranóia. Alarme falso, claro.

Os túneis atravessam a pedra, invisíveis de fora. Canhões escondidos eram levantados em caso de necessidade e posteriormente escondidos para que os inimigos que nunca chegaram não os pudessem ver e destruir. A paranóia sempre deve ter sido o motor que impulsiona a tecnologia militar. Um exemplo incrivelmente puro aqui.

Na caminhada da volta, na praia do lado do mar aberto, vejo uma interessante placa em uma pedra (clique na figura para ampliar). Ali diz:

IN MEMORY OF
HAROLD EDWARD HOLT, P.C., C.H.,
PRIME MINISTER OF AUSTRALIA FROM
26.1.1966 UNTIL 19.12.1967. HE DISAPPEARED WHILE
SIMMING OFF CHEVIOT BEACH DURING
ROUGH WEATHER ON 17.12.1966


Impressionante! O cara veio nadar aqui e sumiu? O Primeiro Ministro? Investigo um pouco e chego à conclusão que ele tinha 58 anos quando isso ocorreu. Estranho... Dou uma olhada na praia, interditada. Não só as ondas são imensas, mas há muitíssimas pedras irregulares no fundo, isso sem contar as correntezas causadas pela entrada da baía e os ventos, a água gelada, os tubarões...


Não entendo o que aconteceu aqui. O corpo nunca foi recuperado. Muitos australianos nadam durante toda a adolescência. O culto à natação é impressionante. Os salva-vidas são vistos como heróis locais. A popularidade deste homem talvez tenha começado assim... Mas parece realmente um lugar demasiado maluco para se nadar. Minha paranóia... será que...

De qualquer maneira, poderíamos aproveitar algo deste passeio. Talvez, quem sabe... convidar um certo presidente para tomar umas pingas e um delicioso banho de mar?


2 comentários:

Anônimo disse...

Taí um custo que eu não me importaria de ter: o aerolulla rumo à Austrália (contanto que trouxesse um vivente a menos).

Anônimo disse...

A pinga eu acho que ele aceita. Quanto ao banho...