2006-07-10

A Casa para Débeis Mentais



Uma vez li uma história curta de Isaac Asimov, chamada "Profissão". Ocorria em um futuro não muito longínquo, e me pareceu interessante pela forma em que Asimov promoveu uma interessante alegoria, misturando propriedade intelectual, geração de conhecimento e dependência tecnológica em um mundo onde as pessoas não precisavam ir à escola. Todo o aprendizado se resumia em duas sessões de alguns minutos de programação cerebral. A primeira sessão, aos 8 anos, era para alfabetização e conhecimentos matemáticos básicos e a segunda sessão, aos 18 anos era equivalente à nossa educação universitária. Em meia hora, o indivíduo era analisado, as suas capacidades mentais avaliadas e era programado com a carreira que mais se ajustava a seus circuitos mentais. Ele não tinha escolha.

Alguns poucos não podiam ser programados. Eram os "Débeis Mentais". Na verdade eram indivíduos razoavelmente inteligentes, mas que não aceitariam muita informação desta maneira instantânea. Dizia-se que o seu cérebro era incapaz de absorver desta maneira. Eram separados do convívio com as outras pessoas e eram internados em "Casas para débeis mentais". Pode-se imaginar o desespero de uma pessoa, em todos os aspectos normal e inteligente, de descobrir, repentinamente, que todos os seus sonhos de futuro tinham-se desvanecido naquela meia hora de análise, no momento que lhe disseram, sacudindo a cabeça: "Não é possível."

Estas pobres almas eram internadas em instituições onde, vejam só, eles tinham que aprender da maneira antiga... usando livros. Lendo, tentando entender. Fazendo esforço. De uma maneira terrívelmente lenta, nunca poderiam competir com os que tinham absorvido conhecimento instantaneamente, que sabiam operar complexos equipamentos como se tivessem nascido fazendo isso.

Uma versão em Inglês encontra-se aqui, existe tradução para o Português, mas não recordo o nome da coletânea. Nota-se como o problema da geração de conhecimento é delicado e como a posição do inovador é instável. Tem um final surpreendente. Vale a pena ler.



Um comentário:

Felipe Pait disse...

Apareceu na coleção "9 Amanhãs". Coincidência engraçada você estar lembrando dessa história agora.... Eu também... Veja o comentário 18 no blog do New York Times:

http://warner.blogs.nytimes.com/?p=21#comments

Para facilitar a leitura, vai aqui o texto.

Isaac Asimov wrote a short story called “Profession”, about a future in which education consists in downloading knowledge into a child’s mind - an extreme version of drill & kill, if you want. The story is about a boy who does not pass the test required to have such an education, and has to learn in the old-fashioned way - by discovering things from books. It may give away the ending to say that this is an extreme version of a constructivist education, but I would suggest “Profession”, in the collection “Nine Tomorrows”, to anyone interested in the math wars. The characters may be flat as in much of sci fi, but no one who read the story has forgotten it.

While going through a scientific education in college and graduate school, I imagined that the education scientists had more sophisticated things to say about teaching mathematics than Asimov. Now I am not so sure. Some thirty years after reading his short story, and with kids of my own in elementary school, I think I would like to go the local public library and reread Asimov before the next meeting of school officials with parents to discuss the mathematics program review and selection of instructional materials.

Comment by Felipe Pait — June 2, 2006 @ 9:28 am