2018-10-12

A cegueira do sucesso e o cachorro de Pavlov




Acordei esta manhã com uma dúvida torturante.

Nesta eleição a população votou em massa contra o PT e eu entendo por quê. O que eu não entendo é como pode ser que o PT, com todos os seus intelectuais universitários, defensores na imprensa e celebrados líderes políticos, não consiga entender nada do que está acontecendo.

A falta de visão do PT chega a ser ridícula: no programa de governo eles defendem soltar presidiários em um país onde há 60 mil assassinatos por ano, defendem usar dinheiro público para criar bolsas de estudos especiais para travestis e transexuais (sem comentários), dar terras para o MST, aumentar impostos sobre exportação (!!), reduzir o poder do ministério público para investigar crimes de políticos e empresários (!!!), aumentar o número de ministérios, aumentar impostos para dar para sindicatos (!!!!), mandar dinheiro para Cuba e Venezuela (!!!!!)...

É um programa perfeito... para quebrar o país. A minha pergunta torna-se ainda mais urgente: como é que eles mesmos não percebem que isso não agrada à população que trabalha todos os dias para pagar imposto e que (ainda) é maioria no Brasil? Não querem ser eleitos? É um mistério.

A resposta a esta questão tem a ver com o famoso cachorro de Pavlov.

Ivan Petrovich Pavlov foi um um médico fisiologista russo que descobriu um mecanismo de aprendizado chamado atualmente de "condicionamento clássico". O condicionamento consiste em gerar um estímulo e promover uma recompensa: no caso do cachorro de Pavlov o estímulo era um sininho que sempre precedia um prato de comida. Depois várias repetições o cachorro salivava automaticamente quando ouvia o sininho, mesmo que não recebesse o prato de comida imediatamente após.

O que tem isso a ver com a falta de visão do PT?

O PT sempre defendeu medidas como as que defende agora.  O problema é que após defender estas medidas (sininho) o PT era eleito (prato de comida). E isso acontece desde a primeira eleição do Lula onde manifestantes comunistas vestidos de vermelho inundavam a avenida Paulista (sininho) e o Lula era eleito (prato de comida). Funcionou até com Dilma: Lula a chamava de "meu poste" (sininho) e a Dilma era eleita (prato de comida).

É somente natural que o Lula e o PT achassem que deveriam fazer mais do mesmo (sininho) e o Haddad seria automaticamente eleito (cadê o prato de comida?).


O Lula, aquele que chamou a Dilma de poste, chegou à conclusão de que não importa o que ele fizesse, ele elegeria qualquer um (ou qualquer coisa, no caso de um poste). Quem o culpa? Ele dizia qualquer besteira (sininho sininho sininho) e foi bem sucedido por mais de uma década (prato de comida, prato de comida, prato de comida).

O problema é que o PT não compreendeu que as falas de Lula e as políticas do PT não tinham nada a ver com seu sucesso. O PT ganhou porque a economia estava ruim no fim do mandato de FHC e não porque defendiam o MST. Ganhou de novo porque a economia melhorou no primeiro mandato de Lula, apesar das políticas recessivas do PT e não por causa delas. A verdadeira relação de causa e efeito nunca foi compreendida nem por Lula nem pelo PT, nem pelos professores universitários, nem pelos jornalistas de esquerda.

É meio triste ver que no segundo turno das eleições o Haddad agora defende o porte de armas, trocou o vermelho por verde-amarelo e, como disse o Bolsonaro, por pouco o Haddad não vai dizer que é Bolsonaro 17.

O PT começa a perceber que o sininho não funciona mais. Na verdade, o sininho nunca foi sinônimo de prato de comida, mas isso eles ainda não notaram.

Fica para a próxima eleição.








2 comentários:

Otacilio Miranda Guimaraes disse...

Esta foi a mais brilhante analogia que eu já li. Preciso dizer qual é a analogia? Se você é brasileiros, aqui vai: entre o povo brasileiro, que demora demais para aprender, é o cachorro de Pavlov, entendeu? Parabéns, Paulo!

Zappi disse...

Obrigado pelo comentário, Otacílio.

Há tempos que acho que todos os que tentam explicar a cabeça dos políticos só falam coisas sem sentido. Como essa baboseira que vendiam sobre Dilma ser uma "gerentona honesta", ou o Lula ser um "homem pragmático": pura besteira.

Como é besteira achar que o eleitor ora é de direita, ora é de esquerda. O motivo pelo qual o eleitor vota em um ou em outro está sempre mais embaixo.

Abraço