A primeira vez que vi Boris foi na Califórnia. Russo jovem mas sisudo, era difícil extrair-lhe um sorriso. Consegui finalmente quando eu disse que adorava umas peças de Skryabin... Ele ficou me olhando por um momento e disse:
"Você é mesmo diferente..."
Tínhamos em comum o gosto por eletrônica. Quando a conversa ia para qualquer lado político, ele se fechava imediatamente. Não faz falta dizer que isso me intrigava muitíssimo... claro que eu sabia a razão pela qual ele não queria mencionar nada político: gerações foram massacradas na Rússia simplesmente por expressar uma opinião. O mais seguro para um russo é sempre manter a boca fechada. Quando isso não é possível, é melhor falar por enigmas ou usar expressões ambíguas.
Recentemente tinha havido a "Perestroika", a Rússia parecia estar indo em direção à economia de mercado, começava a atrair investimentos de fora. Eu achava que o futuro da Rússia era brilhante, por que não? Quando mencionei isso Boris disse, em tom cinzento:
"Zappi, você não faz a mínima idéia..."
Não consegui extrair mais nada dele, mas hoje entendo bem o que ele quis dizer. Em um país onde empreender era proibido e constituía crime por muitas gerações, não haveria ninguém que tomasse as rédeas. O conceito de mercado não existia, as pessoas entendiam que que tudo teria que ser feito de graça para a "Mãe Rússia". O orgulho e o patriotismo dogmáticos não poderiam ceder lugar ao raciocínio inteligente de uma hora para a outra. A economia russa foi dominada pelas máfias infiltradas no governo e Gorbachev foi condenado ao ostracismo interno.
Um país gigantesco, com domínio de avançadas tecnologias, o primeiro a colocar um homem no espaço, foi reduzido a um aglomerado pobre cuja população tem que sobreviver a invernos rigorosíssimos a níveis de renda brasileiros. A opressão continua. Assassinatos políticos são comuns (clique aqui). Uma vez que a mentalidade absolutista se instala, ela é muito difícil de vencer.
Boris tinha toda a razão.
"Você é mesmo diferente..."
Tínhamos em comum o gosto por eletrônica. Quando a conversa ia para qualquer lado político, ele se fechava imediatamente. Não faz falta dizer que isso me intrigava muitíssimo... claro que eu sabia a razão pela qual ele não queria mencionar nada político: gerações foram massacradas na Rússia simplesmente por expressar uma opinião. O mais seguro para um russo é sempre manter a boca fechada. Quando isso não é possível, é melhor falar por enigmas ou usar expressões ambíguas.
Recentemente tinha havido a "Perestroika", a Rússia parecia estar indo em direção à economia de mercado, começava a atrair investimentos de fora. Eu achava que o futuro da Rússia era brilhante, por que não? Quando mencionei isso Boris disse, em tom cinzento:
"Zappi, você não faz a mínima idéia..."
Não consegui extrair mais nada dele, mas hoje entendo bem o que ele quis dizer. Em um país onde empreender era proibido e constituía crime por muitas gerações, não haveria ninguém que tomasse as rédeas. O conceito de mercado não existia, as pessoas entendiam que que tudo teria que ser feito de graça para a "Mãe Rússia". O orgulho e o patriotismo dogmáticos não poderiam ceder lugar ao raciocínio inteligente de uma hora para a outra. A economia russa foi dominada pelas máfias infiltradas no governo e Gorbachev foi condenado ao ostracismo interno.
Um país gigantesco, com domínio de avançadas tecnologias, o primeiro a colocar um homem no espaço, foi reduzido a um aglomerado pobre cuja população tem que sobreviver a invernos rigorosíssimos a níveis de renda brasileiros. A opressão continua. Assassinatos políticos são comuns (clique aqui). Uma vez que a mentalidade absolutista se instala, ela é muito difícil de vencer.
Boris tinha toda a razão.
2 comentários:
Zappi p/q ao ler o post me reporto ao Brasil?!?!
voce está me assustando zappi...
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