Tenho uma pergunta a fazer ao leitor: você apontaria uma arma para si mesmo e dispararia, sabendo que há uma chance em 50 de morrer fazendo isso? Vamos dizer que ninguém o está obrigando a cometer esta "imprudência" e que você tem opções mais brandas, como seguir a sua vida com seus filhos e família...
É verdade que existe gente viciada em perigo, mas mesmo estes procuram reduzir as chances de que algo aconteça. Os para-quedistas, por exemplo, tomam todas as precauções possíveis e imagináveis. Quem desce da Pedra da Gávea em asa-delta também. Os balonistas, esquiadores, surfistas, alpinistas... Talvez os alpinistas sejam os piores, os que tomam mais riscos para si. Ainda assim, o alpinista sabe que está dependendo de sua própria perícia, de suas próprias decisões, ele acha que o destino está em suas mãos.
Quem entra em uma roleta russa como a que eu descrevi acima confia em outra coisa: sorte. Lança um dado que vai trazer de volta um destino: vida ou morte.
Alguém vai dizer que tomamos riscos em cada pequena coisa que fazemos no dia a dia, cada vez que saímos de carro, cada vez que andamos na rua, quando voamos de avião. Posso assegurar que em nenhum desses casos o risco é nem sequer próximo a uma chance em 50. É um risco que definitivamente não vale a pena, se você for são.
Por que estou dizendo isso? Porque em janeiro de 1986 a Nasa decidiu, em uma magistral manobra de relações públicas, colocar uma professora primária no espaço, para que ela pudesse dar uma aula através de vídeo para seus alunos. A Nasa assegurava que voar no Space Shuttle era seguríssimo, com menos de uma chance em cem mil de que acontecesse algo errado. Uma em cem mil??? É provavelmente mais seguro que voar em um Fokker velho da TAM!
O foguete explodiu, a professora morreu, junto com todos os outros tripulantes. A Nasa jurava que seus números estavam corretos, que era uma chance em cem mil e pronto. Aí alguém chamou Richard Feynman para descobrir o que estava acontecendo na caixa preta burocrático-política da Nasa. Depois de muitas peripécias, típicas de Feynman, ele chega a uma conclusão: as chances de falha são próximas a 2% (uma em 50). Todo mundo ficou contra ele, quanta arrogância, esse premio nobelzinho de araque. Feynman escreveu um livro explicando direitinho porque ele chegou a essa conclusão. O livro se chama "What do you care what other people think?" e é um impressionante relato de como a política e o dinheiro podem distorcer a realidade. Até hoje houve 117 lançamentos e 2 se perderam, todo mundo morreu. Um pouco menos que 2%. Gostaria de poder dizer a Feynman, morto em 1988, que ele tinha razão.
A Nasa não aprendeu o suficiente com o episódio. É verdade que deixou de mandar professorinhas primárias para o espaço. É verdade que passou a cuidar da segurança de uma maneira mais detalhada. Não aprendeu, entretanto, que não deve mandar mãezinhas para o espaço. Ou dito de outra forma: se uma mamãezinha aceita entrar em uma roleta russa com uma chance em cinquenta de morrer, então sei que ela é louca.
Não é necessário fazer nenhum outro teste psicológico nela para chegar a essa conclusão. E vocês, o que acham?
Este livro é realmente excelente. Infelizmente não existe tradução ao Português. Para comprar na Amazon clique abaixo:
É verdade que existe gente viciada em perigo, mas mesmo estes procuram reduzir as chances de que algo aconteça. Os para-quedistas, por exemplo, tomam todas as precauções possíveis e imagináveis. Quem desce da Pedra da Gávea em asa-delta também. Os balonistas, esquiadores, surfistas, alpinistas... Talvez os alpinistas sejam os piores, os que tomam mais riscos para si. Ainda assim, o alpinista sabe que está dependendo de sua própria perícia, de suas próprias decisões, ele acha que o destino está em suas mãos.
Quem entra em uma roleta russa como a que eu descrevi acima confia em outra coisa: sorte. Lança um dado que vai trazer de volta um destino: vida ou morte.
Alguém vai dizer que tomamos riscos em cada pequena coisa que fazemos no dia a dia, cada vez que saímos de carro, cada vez que andamos na rua, quando voamos de avião. Posso assegurar que em nenhum desses casos o risco é nem sequer próximo a uma chance em 50. É um risco que definitivamente não vale a pena, se você for são.
Por que estou dizendo isso? Porque em janeiro de 1986 a Nasa decidiu, em uma magistral manobra de relações públicas, colocar uma professora primária no espaço, para que ela pudesse dar uma aula através de vídeo para seus alunos. A Nasa assegurava que voar no Space Shuttle era seguríssimo, com menos de uma chance em cem mil de que acontecesse algo errado. Uma em cem mil??? É provavelmente mais seguro que voar em um Fokker velho da TAM!
O foguete explodiu, a professora morreu, junto com todos os outros tripulantes. A Nasa jurava que seus números estavam corretos, que era uma chance em cem mil e pronto. Aí alguém chamou Richard Feynman para descobrir o que estava acontecendo na caixa preta burocrático-política da Nasa. Depois de muitas peripécias, típicas de Feynman, ele chega a uma conclusão: as chances de falha são próximas a 2% (uma em 50). Todo mundo ficou contra ele, quanta arrogância, esse premio nobelzinho de araque. Feynman escreveu um livro explicando direitinho porque ele chegou a essa conclusão. O livro se chama "What do you care what other people think?" e é um impressionante relato de como a política e o dinheiro podem distorcer a realidade. Até hoje houve 117 lançamentos e 2 se perderam, todo mundo morreu. Um pouco menos que 2%. Gostaria de poder dizer a Feynman, morto em 1988, que ele tinha razão.
A Nasa não aprendeu o suficiente com o episódio. É verdade que deixou de mandar professorinhas primárias para o espaço. É verdade que passou a cuidar da segurança de uma maneira mais detalhada. Não aprendeu, entretanto, que não deve mandar mãezinhas para o espaço. Ou dito de outra forma: se uma mamãezinha aceita entrar em uma roleta russa com uma chance em cinquenta de morrer, então sei que ela é louca.
Não é necessário fazer nenhum outro teste psicológico nela para chegar a essa conclusão. E vocês, o que acham?
Este livro é realmente excelente. Infelizmente não existe tradução ao Português. Para comprar na Amazon clique abaixo:
2 comentários:
Não entendi seu ponto. Mãezinha não pode, mas paizinho pode?
Oh, a sacrossanta maternidade! Hummm, há algo de católico em seu comentário. Cuidado!
Boa, anônimo!!
Me refiro neste post à maluca que tentou matar a amante do namorado dela, não sei se deu aí na TV. (clique aqui)
Qualquer um que aponta a arma na cabeça é louco, mas se é uma mãe é louca de pedra. Quem é mãe sabe perfeitamente do que estou falando.
Os homens, sei lá, tem umas tendências naturalmente mais suicidas... Uma bela droga de paizinho maluco...
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