2007-09-07

Caminhando para trás

Uma das principais razões de eu ter deixado o Brasil era a sensação de que os anos se sucediam mas o país sempre piorava. Quando o Maloqueiro-mór foi eleito, ficou difícil esconder de mim mesmo o óbvio: o Brasil jamais progrediria, ou pelo menos levaria outro século para expurgar todos os repugnantes petralhas.

Excelente está o artigo do Diogo Mainardi na Veja desta semana. Ele mostra o que acontece nas monstruosas catacumbas do poder, manejadas e administradas pela mais nojenta ralé petista. A reserva de mercado da informática, uma das mais estrondosas cagadas já concebidas pelo governo brasileiro, é re-editada como a reserva de mercado da ignorância. Leiam, vale a pena:

Luciano Coutinho é o Mulá Omar brasileiro. Mulá Omar tentou deter o progresso e a modernidade proibindo o uso de radinhos de pilha em Cabul. Luciano Coutinho fez o Brasil retroceder no tempo ao implementar a reserva de mercado para a área de computadores no governo de José Sarney, em meados da década de 1980. Dito de outra maneira: no mesmo período em que, nos Estados Unidos, a Microsoft introduzia o Windows, a Apple fazia o lançamento do Macintosh e a Intel desenvolvia o 386, o Brasil, seguindo o caminho indicado por Luciano Coutinho, decidia espontaneamente fabricar sucata tecnológica na Zona Franca de Manaus, o Vale do Silício no tacacá.

No segundo mandato de Lula, Luciano Coutinho foi nomeado presidente do BNDES. Ele tem o poder de determinar o rumo da economia do país, escolhendo onde o governo aplicará boa parte de seu capital. Em 1997, com seu tapa-olho da Cepal, com seu nacionalismo ciclópico, o Mulá Omar brasileiro atacou a venda da Telebrás às operadoras estrangeiras, com o argumento de que era melhor criar uma grande empresa nacional de telefonia. Agora, no BNDES, ele terá a oportunidade de retroagir dez anos e participar com dinheiro público na fusão de duas operadoras privadas, Oi e Brasil Telecom. Em 1997, ele atacou também o processo de venda da Vale do Rio Doce. Agora que o PT, no congresso realizado na última semana, resolveu apoiar oficialmente o plebiscito para reestatizar a companhia, ele poderá colocar suas idéias em prática.

Por que é que estou dizendo tudo isso? Por causa dos 56.348 servidores que o governo pretende contratar em 2008, a um custo de 3,4 bilhões de reais. Esse é o dado bruto. Mas o que me interessa é o dado particular: o tipo de gente que será contratada. Veja o caso do BNDES. Luciano Coutinho transformou-o numa espécie de Zona Franca do lulismo. Há um diretor indicado por Benedita da Silva, há outro diretor indicado pelo Bispo Crivella, há o pessoal trazido pelo próprio Luciano Coutinho de uma reserva de mercado da Unicamp. O BNDES está cheio de técnicos formados nas melhores universidades do mundo. O patriotismo de Luciano Coutinho acabou prevalecendo, e um departamento do banco foi entregue a um professor da Faculdade Esuda.

Luiz Gonzaga Belluzzo, colega de Luciano Coutinho e um dos responsáveis pela política econômica de José Sarney – aquela que presenteou o país com uma inflação de 2.751% –, também foi convidado para ocupar um cargo no governo: presidente do conselho curador da TV Pública. Ele é sócio da Carta Capital. Dá para ser empresário da mídia e, ao mesmo tempo, controlar a TV estatal? Quem mais? Romeu Tuma Júnior é o novo secretário nacional de Justiça. Um de seus papéis será ajudar a rastrear o dinheiro mantido ilegalmente fora do Brasil. Num depoimento à magistratura italiana, um dos diretores da Telecom Italia considerou-o ligado a Daniel Dantas. O talibanismo lulista é assim mesmo: cabem os amigos e os inimigos, cabem os membros de uma tribo e de outra. Desde que o Brasil caminhe para trás.

Diogo Mainardi

7 comentários:

Anônimo disse...

Zappi, meus motivos para sair do Brasil e vir para a Austrália foram diferentes dos seus. Eu resolvi sair do Brasil quando cheguei à conclusão de que o povo brasileiro não tem vergonha na cara. E eu não queria continuar vivendo com um povo que não tem vergonha na cara. Eles estão felizes da vida, apesar de tudo. As comemorações do 7 de setembro foram um exemplo de como o povo brsileiro está feliz da vida. Boa merda o povo brasileiro.

Orlando Tambosi disse...

Coutinho deveria estar na cadeia por este atentado.

Anônimo disse...

Otacílio,

Há dois tipos de brasileiros. Os que, de alguma forma, se beneficiam dessa esculhambação institucional (estes estão felizes da vida e são algo em torno de 60 milhões) e os que, mesmo enojados, ficaram. Uns porque acham o país viável (não sei como!). Outros, por razões familiares ou que tais, não puderam sair ou perderam a oportunidade que surgiu (aí me incluo!). Estes são uns 40 milhões. É muita gente de bem que você está esculhambando. Vá com calma.

Peregrino

PS: Se você tiver um pouco de paciência, verá que esperava-se entre 45 mil e 50 mil pessoas no 7 de Setembro, em Brasília. Só apareceram 30 mil. O que isso lhe parece?

Anônimo disse...

Obrigado por interceder Peregrino, pois "existe vida inteligente por baixo da merda"...
A decisão de deixar o páís é compreensível, jogar tudo pro alto e mandar às favas toda esta esbórnia e ignorância institucionalizada é uma opção válida, mas ficar, ter esperança, lutar contra esta mil vezes maldita endêmica burra esquerda latino-americana chega a ser uma "vocação"...O país é grande demais, mesmo para o PT & adeptos, afundarem-no!

Abraço

Hans H.

Unknown disse...

Ufa!
Obrigada Peregrino e Hans. Estava começando a crer que aqui não existia espaço para discordância de idéias.
Não tenho intenção de sair daqui, mas tenho vergonha na cara. Não há apenas dois tipos de brasileiros. A população brasileira não é composta por anjos-elite ou demônios-ralé. É... fui eu quem reclamou do termo. Porque acho que TODA generalização é equivocada e empobrece o pensamento. Porque maniqueísmo não é resposta às nossas angústias.

Anônimo disse...

Oi, Clau!

A população brasileira não é composta integralmente por anjos-elite ou demonios-ralé. Isso é claro. Eu jamais disse isso.

Elite é o há de melhor, ralé é o há de pior. Você tem alguma dúvida de que o PT está colocando a ralé no poder? Que o PT está fazendo as faculdades centros formadores de estúpidos comunistas em lugar de uma elite intelectual? Você tem alguma dúvida de que grande parte da elite está indo embora do Brasil para tentar a vida em outros países?
O pensamento de "não vamos generalizar, não há elite e não há ralé" é exatamente o raciocínio que o PT quer para que a ralé passe a fazer parte da norma. Eu tenho certeza que você sabe que existem ralé e elite. A ralé destroi e a elite constroi. O resto segue quem está no comando.

By the way, o que você acha da indicação desse demente, Luciano Coutinho, para a presidência do BNDES?

Paulo C. Barreto disse...

Viva a reserva de mercado! Hehehehehehehe... Confiram o post sobre um livro ótimo sobre o que foram aqueles tempos. http://pcbarreto.blogspot.com/2007/09/computador-faz-poltica.html