2007-09-11

Idéias vivas

Idéias não tem vida própria. Elas precisam de pessoas que as transmitam, modifiquem, adaptem, explorem ou divulguem. Mas da mesma maneira as pessoas não sobreviveriam sem ambiente, sem plantas, sem um mundo que as sustentasse.

Imaginemos por um momento que as idéias sejam seres vivos. Elas se reproduziriam quando alguém conta sua idéia a outra pessoa. Teríamos assim a idéia original na cabeça de seu formulador e uma cópia na cabeça de seu interlocutor. Às vezes as idéias se reproduziriam em massa. Isso seria o caso de quando alguém transmite uma idéia pela televisão e milhões de pessoas a reproduzem em suas cabeças quando a entendem.

É preciso dizer que não basta explicar algo para que a outra pessoa gere uma cópia da idéia em sua cabeça. É necessário que a idéia seja entendida e seja aceita. Uma vez entendida e aceita juntam-se as condições para que essa idéia se reproduza novamente, quando este que a entendeu a passa adiante.

Há literalmente milhões de idéias circulando no mundo. Desde uma receita de bolo até manipulações matemáticas, desde técnicas de cirurgia até teorias políticas, desde configurações de circuitos elétricos até a teoria da gravidade. Nesta gigantesca confusão, notamos que as idéias também competem entre si. Como?

Há idéias que automaticamente excluem outras. Por exemplo a idéia de que "todos os políticos são ruins" exclui automaticamente a idéia de que possa haver um político bom, inviabilizando a idéia de democracia. Se todos forem ruins, não poderá haver representação democrática e a democracia é impossível. Algumas idéias excluem outras em maneiras ainda mais sutis. Por exemplo, a idéia de que elite é uma coisa ruim - ainda que os dicionários discordem - é espalhada com uma facilidade incrível no no ambiente de mentes brasileiras para as quais um dicionário é, no máximo, um ítem para decorar uma prateleira.

Como em um eco-sistema, as idéias às vezes se agrupam em um conjunto internamente coerente. Assim, é muito raro que um religioso fervoroso seja também um cientista. Porque? Por que o religioso tem inculcada na cabeça desde pequeno a idéia de que o maior valor é a sua fé. Fé consiste em acreditar em coisas sem ter nenhuma evidência, anulando a própria capacidade intelectual, contrastando frontalmente com o eco-sistema da mentalidade baseada em realidade. Assim, certas idéias proliferam facilmente em ambientes nos quais outras não tem a menor chance. Um exemplo é a idéia da aparição da Virgem Maria em um ambiente de crédulos carolas.

Há também o fenômeno da evolução das idéias. Elas variam ou se adaptam aos "ambientes mentais" que encontram. No século 17 o conceito de escravidão era totalmente aceitável, enquanto agora é até difícil imaginar o que faria as pessoas abraçarem tal barbaridade. Conceitos mutam e evoluem. Religiões ficam mais radicais ou mais moderadas, de acordo com os conceitos existentes na cabeça das pessoas.

Fica uma pergunta: quais são as idéias que prosperam no ambiente mental do Brasil de hoje? Quais serão as consequências futuras da proliferação de tais idéias?

A idéia de pensar que as idéias estão vivas - claro que esta é também uma idéia - foi surrupiada por mim do conceito de "meme" do livro "O Gene Egoísta" de Richard Dawkins. Se você nunca leu este fantástico livro, eu recomendo. É uma boa idéia.



3 comentários:

Bira disse...

Eu tive uma idéia outro dia, fechar o PT, mandar todos para Cuba, passagem só de ida, o que voce acha?.

Bira disse...

pela TAM com o reverso pinado...ou pela GOL, pela serra do cachimbo com aqueles pilotos americanos dando um rolê na região...lembre-se que o estado democratico de direito permite ironia e humor negro, preservando-se os familiares da tragédia.

Zappi disse...

... com controladores analfabetos e petistas, com uma invasão do MST na torre de controle, fazendo greve de fome e falando no rádio em russo com sotaque cearense.