Nos domingos da minha infância, quando íamos visitar algum colega ou amigo dos meus pais, notava algo muito peculiar. Não entendia bem o motivo, mas em muitas casas a TV ficava ligada o dia inteiro no "Programa do Silvio Santos".
Era um fenômeno: "Hahaha, minhas colegas de trabalho" uma risada forçada, frases repetidas ad infinitum, um verdadeiro show. Não fazia diferença qual era a classe social, a patroa assistia na sala e a empregada em um televisor pequenino no quarto de empregada ou na cozinha. "Hahahhaha", Silvio Santos era um estranho palhaço, vestindo sempre terno e intercalando comentários muito sérios, como "Não se esqueça de pagar o carnê do Baú". Ele me parecia mais assustador do que o "Coringa" do Batman. E mais ganancioso também.
O "Baú da Felicidade" era o nome de um esquema muito interessante inventado pelo Silvio Santos, cujo nome verdadeiro é Senor Abravanel. O esquema consistia em uma loteria na qual se sorteariam "prêmios" que eram entregues durante o famoso programa, que todo mundo assistia. "Nunca atrase o carnê do Baú" avisava, muito serio, Senor Abravanel. Se uma casa fosse sorteada para alguém que não tinha o carnê em dia, o premio não era entregue, como o "Silvio" fazia questão de ressaltar.
O sistema era na realidade um tipo de loteria, na qual o prêmio era entregue na televisão, durante o programa, para todo mundo ver. Como loterias privadas eram proibidas no Brasil, Senor fazia questão de explicar: não é loteria, tudo o que você pagou no carnê será devolvido em "mercadorias" no fim do ano. Claro que havia a exceção: se o portador do carnê atrasasse os pagamentos não levava nada. As tais "mercadorias" eram escolhidas pelo Silvio e entregues depois de doze pagamentos, gerando um impressionante fluxo de caixa para o já riquíssimo Abravanel. Todas as empregadas domésticas pagavam o carnê, mesmo sacrificando ítens de maior necessidade. As "mercadorias de qualidade" não tinham tanta qualidade assim, eram itens de segunda, rejeições de fábrica, mas para quem não tem nada pareciam presentes. O dinheiro já tinha sido irremediavelmente gasto e absorvido pela organização do astuto apresentador.
O motivo real da compra do carnê era a esperança de ganhar uma casa, aparecer na televisão. Mesmo assim eu não conseguia entender como um esquema de roubo tão óbvio apelava tanto para uma faixa tão ampla da população de São Paulo.
Silvio sempre fazia parecer que ele era o bondoso doador de casas e outros prêmios, quando na verdade os prêmios tinham sido regiamente pagos pelos crédulos e empobrecidos pagantes do famoso carnê. Silvio ria sem parar, simulando alguma timidez, fingindo-se atordoado pela entusiasmo desproporcional dos poucos que tiveram a sorte de ganhar algo de valor. Para mim era extremamente repugnante. Ninguém mais parecia sentir o que eu sentia. O efeito de mostrar os ganhadores pela TV só amplificava o entusiasmo, a vontade de ganhar um premiozinho na triste vida de empregada doméstica.
Acho que a melhor descrição do fenômeno Silvio que já ouvi foi de uma grande fã sua:
"Acho que gostávamos do Silvio porque tínhamos acabado de chegar a São Paulo, essa cidade tão agressiva, não conhecíamos ninguém. No domingo não tínhamos o que fazer, não tínhamos quem visitar. O Sílvio parecia falar com a gente. Ele era o único que nos dirigia a palavra."
Silvio tentou entrar para a política, já que era um especialista em aparecer como grande benfeitor usando dinheiro alheio. Falhou. Não suportou as críticas que logo apareceram. Também, tinha roubado tão tranquilamente por tanto tempo, tinha sido tão elogiado por isso... para quê queria ele ser criticado agora? Desistiu.
Era um fenômeno: "Hahaha, minhas colegas de trabalho" uma risada forçada, frases repetidas ad infinitum, um verdadeiro show. Não fazia diferença qual era a classe social, a patroa assistia na sala e a empregada em um televisor pequenino no quarto de empregada ou na cozinha. "Hahahhaha", Silvio Santos era um estranho palhaço, vestindo sempre terno e intercalando comentários muito sérios, como "Não se esqueça de pagar o carnê do Baú". Ele me parecia mais assustador do que o "Coringa" do Batman. E mais ganancioso também.
O "Baú da Felicidade" era o nome de um esquema muito interessante inventado pelo Silvio Santos, cujo nome verdadeiro é Senor Abravanel. O esquema consistia em uma loteria na qual se sorteariam "prêmios" que eram entregues durante o famoso programa, que todo mundo assistia. "Nunca atrase o carnê do Baú" avisava, muito serio, Senor Abravanel. Se uma casa fosse sorteada para alguém que não tinha o carnê em dia, o premio não era entregue, como o "Silvio" fazia questão de ressaltar.
O sistema era na realidade um tipo de loteria, na qual o prêmio era entregue na televisão, durante o programa, para todo mundo ver. Como loterias privadas eram proibidas no Brasil, Senor fazia questão de explicar: não é loteria, tudo o que você pagou no carnê será devolvido em "mercadorias" no fim do ano. Claro que havia a exceção: se o portador do carnê atrasasse os pagamentos não levava nada. As tais "mercadorias" eram escolhidas pelo Silvio e entregues depois de doze pagamentos, gerando um impressionante fluxo de caixa para o já riquíssimo Abravanel. Todas as empregadas domésticas pagavam o carnê, mesmo sacrificando ítens de maior necessidade. As "mercadorias de qualidade" não tinham tanta qualidade assim, eram itens de segunda, rejeições de fábrica, mas para quem não tem nada pareciam presentes. O dinheiro já tinha sido irremediavelmente gasto e absorvido pela organização do astuto apresentador.
O motivo real da compra do carnê era a esperança de ganhar uma casa, aparecer na televisão. Mesmo assim eu não conseguia entender como um esquema de roubo tão óbvio apelava tanto para uma faixa tão ampla da população de São Paulo.
Silvio sempre fazia parecer que ele era o bondoso doador de casas e outros prêmios, quando na verdade os prêmios tinham sido regiamente pagos pelos crédulos e empobrecidos pagantes do famoso carnê. Silvio ria sem parar, simulando alguma timidez, fingindo-se atordoado pela entusiasmo desproporcional dos poucos que tiveram a sorte de ganhar algo de valor. Para mim era extremamente repugnante. Ninguém mais parecia sentir o que eu sentia. O efeito de mostrar os ganhadores pela TV só amplificava o entusiasmo, a vontade de ganhar um premiozinho na triste vida de empregada doméstica.
Acho que a melhor descrição do fenômeno Silvio que já ouvi foi de uma grande fã sua:
"Acho que gostávamos do Silvio porque tínhamos acabado de chegar a São Paulo, essa cidade tão agressiva, não conhecíamos ninguém. No domingo não tínhamos o que fazer, não tínhamos quem visitar. O Sílvio parecia falar com a gente. Ele era o único que nos dirigia a palavra."
Silvio tentou entrar para a política, já que era um especialista em aparecer como grande benfeitor usando dinheiro alheio. Falhou. Não suportou as críticas que logo apareceram. Também, tinha roubado tão tranquilamente por tanto tempo, tinha sido tão elogiado por isso... para quê queria ele ser criticado agora? Desistiu.
2 comentários:
Pode-se não gostar de SS, mas não se pode negar que ele trabalhou prá burro para chegar onde chegou!
E isso sem contar com dinheiro fácil do BNDES, ou as "ofertas" da Igreja Record do Reino de Deus!
Pena que esteja deixando a rede se decompor, com uma programação sofrível, uma estética quarto-mundista horrorosa!
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