2006-07-04

Os 3 votos de Lula - 1.O desafiador

Quem entende de marketing sabe que para uma campanha bem sucedida é necessário identificar o público alvo adequadamente. Darei minha humilde contribuição. Pelo menos tento explicar por que cargas d'água o Lula tem tantos eleitores assim.

Voto número Um: O desafiador

Estava no Rio para um congresso durante a manhã. Tinha que visitar uma empresa à tarde. Saio do hotel (acho que era o Othon) e peço ao porteiro um táxi.

Andar engravatado no Rio de Janeiro é um convite aberto aos bandidos, portanto eu estava extremamente cuidadoso, olhando para todos os lados. Ele parou um táxi qualquer e eu entrei. Quando estava sentado me dei conta: não tinha prestado atenção no motorista, tão preocupado estava com os pivetes que rondam na calçada. Levei um susto: o taxista parecia ter recém saído de um hospital psiquiátrico ou de um presídio. Agora eu estava à mercê deste, que poderia ser muito pior que qualquer pivete endemoniado. Decido continuar no táxi, afinal pedir para descer agora só poderia piorar as coisas.

Ele tinha a cabeça raspada, era baixinho, usava camiseta meio rasgada, tinha o braço todo tatuado e um aspecto invocado, meio musculoso. O mais impressionante era seu sorriso estranho. Parecia estar pensando: "Ôba, peguei um Doutor desta vez".

Olhou para mim do espelhinho, esperando eu dizer para onde queria ir. Eu ainda pensava se devia ficar no táxi, quando me pego dizendo "Zona norte, estrada velha da Pavuna". Já não havia jeito. O motorista continua me analisando, meio zombeteiro.

"Sabe, eu sou petista"

Disse, um tanto arrogante. Olhava sempre pelo espelhinho para avaliar a minha reação. Ia me manifestar quando ele me interrompe:

"Você é Tucano, claro, já se vê!" - e continua - "Mas não sou desses petistas frouxos aí, não. Sou xiita, radical, trotskista e se Deus quiser o Lula vai subir lá e vai iniciar a revolução que este país está precisando."

Não tinha remédio senão meio que concordar com o cara. Ele continua:

"Sei que vocês burgueses tem medo, mas vai ser bom para o Brasil, né?"

Parecia não estar tão certo, parecia querer a minha aprovação de alguma maneira. Eu não sabia o que dizer, mas achei que o melhor era ser honesto.

"Olha, acho que não é bem assim, eu até acho que o país precisa mudar muita coisa mas..."

Interrompe, subitamente retomando o ar arrogante.

"Já sei, já sei, é que vocês vão perder os privilégios, né? Vocês tão nadando de braçada com o Fernando Henrique, né? "

"Não é assim não... é que o Fernando Henrique possibilitou investimentos..."

"Sei, trouxe a grana das multis, né? Para explorar o povo brasileiro. Tô sabendo!"

Pensei que nada do que eu dissesse entraria no cérebro impermeável do taxista. Não havia remédio senão ouvir a sua ladainha.

"É, os gringos vão se ferrar mesmo. Sô xiita, tá sabendo? E se Deus quiser, a revolução vai acontecer e vai virar o Brasil de pernas pro ar."

Aos poucos, sua atitude comigo foi ficando mais mansa, menos confronto e mais conversa. Afinal, ele sabia que eu discordava dele mas ao mesmo tempo entendia que a situação dos pobres não estava nem próxima do que poderia ser considerado minimamente razoável.

Ele foi me contando mais e mais de sua vida. Em determinado momento ele disse:

"Sabe, a minha patroa? A dona Marta? Ela é professora, lá no morro, ta sabendo? Ela dá aula lá na escola pras criancinhas. No otro dia, a polícia invadiu a escola, atrás de um traficante. Teve tiro pra todo lado"

"E alguém se machucou?"

"Não, foi de noite. O morador da escola se escondeu embaixo da cama. Mas foi uma irresponsabilidade da Polícia: eles não podem subir no morro!"

"No dia seguinte, um aluno da dona Marta veio com um papelzinho do tráfico e entregou para ela. Era um papel rasgado, escrito à mão, onde dizia que se a Dona Marta quisesse, o tráfico ia apagar os policiais que deram tiro na escola."

Notei como ele se sentia importante e poderoso, estufava o peito... a mulher dele tinha tido, por um momento, o poder de vida e morte sobre os policiais que subiram no morro... Pergunto:

"E o que ela fez, a Marta?"

"Ela agradeceu e disse que não precisava não. Ela é muito decente, a patroa, a dona Marta."

Concordei.

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Clique aqui para o voto número Dois: "O covarde ressentido".




3 comentários:

Anônimo disse...

Antes fosse mentira. E se Lulla não ganhar?

Anônimo disse...

Olha Zappi, o Alckmin está subindo nas pesquisas. Subiu 7 pontos percentuais. Espero que isso seja o começo de uma reação vitoriosa.
Quanto ao seu motorista de táxi, acho que ele faz parte daquela turma de ignorantes manipulados por um discurso populista. Massa de manobra. Outro dia ouvi a Heloísa Helena numa entrevista falando que iria diminuir os ganhos dos investidores, que eles ainda iriam continuar ganhando "mais do que mereciam mas menos do que agora". É esse tipo de discurso que inflama os ignorantes e os baderneiros.
Heloísa Helena, PT e todos os que pensam dessa maneira revanchista e atrasada: vocês merecem apenas o esquecimento!

Anônimo disse...

Paulo,
Fim de semestre é tempo de muito trabalho e correria - eu que o diga. Não tive tempo de ler com calma seu texto e ele não merece um olhar corrido, não farei isso. Enquanto nossas vidas voam, no entanto, peço que você dê uma passada no blog do Reinaldo Azevedo. Toda a solidariedade é pouca. Um abraço, volto para te ler assim que possível.