Fernando embarcou para Wagga em um voo noturno. Não haveria mais tempo de ir de trem e a prova seria às 8 da manhã do dia seguinte. Às vezes acontecem situações como esta: não haveria segunda chance, era tudo ou nada... tudo tinha que dar certo desta vez.
Essa cidade não era assim tão longe, o voo durava uma hora. Na sala de embarque olhou ao redor: estava muito curioso sobre quem em sã consciência iria para um lugar com esse nome... Notou especialmente um homem, meio gordo, que cumprimentava todo mundo. Na certa devia ser um político. Olhou para Fernando, que sorriu de volta. Há políticos que estão interessados em Wagga-Wagga, pensou. Talvez não fosse um lugar tão ruim assim, afinal. Pensou brevemente em José Sarney e seu súbito e inexplicável interesse no Amapá... não, não podia ser a mesma coisa. Nada se parecia com o Brasil por aqui.
O avião parecia ser da Embraer, mas estava forrado com uma espécie de carpete imitação de vaca holandesa... e os assentos eram peludos. Que espécie de empresa era esta? "Outback airlines"? Todos sentavam organizadamente em seus assentos, não parecendo perceber nada estranho na decoração do avião-vaca. Fernando tentava fazer como os demais. Notava entretanto que o político continuava olhando para ele. Fernando respondeu com um sorriso amarelo e olhou para o outro lado.
A aeromoça se aproxima e perguntou, gentil: "Vai precisar de taxi em Wagga?" Fernando respondeu que sim, um pouco intrigado. Ela pediu seu nome e explicou que um taxi iria estar esperando por ele no aeroporto. Ao descer no pequeno aeroporto, percebeu que efetivamente havia um taxi esperando por ele. "Como Wagga é organizada" pensa, divertido. Não teve como ver a cidade, tudo estava escuro. O hotel que havia escolhido encontrava-se na metade do caminho entre o aeroporto e a cidade, em uma área aparentemente rural. A noite estava fria e estrelada, Fernando passou um tempo olhando o céu antes de entrar no quarto.
No dia seguinte, estava pronto para ir bem cedo para a prova de inglês. Tomou um ótimo café da manhã no hotel e conversou com a moça que servia o café. Ela explicou que quase sempre fazia frio de manhã em Wagga, mas hoje o tempo estava bom. "Como sabe? " pergunta Fernando. Ela aponta para um campo, pela janela e diz: "Está vendo, esse gramado? Quando faz realmente frio ele fica bem branquinho. Nunca neva, entretanto." Fernando olhou para o gramado que estava um pouco esbranquiçado. Depois do café foi dar um passeio por lá. O ar fresco a zero graus estava delicioso. A geada começava a derreter sob seus pés. Decidiu que estava pronto para a prova.
O taxi o deixou em um prédio do campus da universidade de Wagga. Não havia ninguém, ele tinha chegado mais de uma hora antes do horário do teste. Decidiu passear pelo campus. O sol nascia e iluminava uma floresta de eucaliptos com sua luz amarelada. Os troncos e a terra pareciam ter o mesma cor, e, de repente, nota que do ambiente monocromático um canguru o espreita. Amarelo, o canguru também. Pensou que os cangurus tinham essa cor para se confundir com a terra e com o ambiente. "Esses cangurus estão aqui há milhões de anos, eu acabo de chegar" pensou, achando divertido o contraste. Olhou para si mesmo, estava vestido de preto. O canguru não parecia muito preocupado, olhava como se estivesse curioso, como se estivesse pensando sobre quem era aquele estranho que ele nunca havia visto antes.
Já era hora do teste, voltou ao prédio, que já estava aberto. A moça com que tinha falado ao telefone no dia anterior já estava lá, esperando: "Você é o Fernando, não é mesmo?" O teste começaria em meia hora, conversou um pouco e disse: "Já agendei o seu teste oral para a 1:00, de modo que você não vai perder o ônibus nem o trem". Quanta eficiência... Fernando notou a atitude em Wagga era diferente da dos grandes centros. Aqui eles tinham receio que, se não houvesse procura pelo teste, ninguém viria nunca e todos perderiam o emprego. Depois de identificá-lo, pediu para que esperasse em uma sala.
Ficou sozinho por alguns instantes e pensou, divertido, que era o único que tinha se inscrito para fazer a prova em meses... Até que começaram a aparecer os outros. Um, dois, cinco, sete negros se sentaram ao redor de Fernando, que olhava, um tanto intrigado. Aí começaram a chegar negras, muito escuras, com certeza de algum lugar da Africa. O silêncio era geral, e todos olhavam para Fernando. Fernando não sabia bem o que fazer, até que o maior de todos, um negro com quase dois metros de altura se aproxima, olhando-o no rosto e com ar muito sério e um vozeirão grosso, diz:
Ele abre um sorriso luminoso e Fernando relaxa, rindo com a piada. Eram todos de Zimbabwe e começaram a conversar sobre o país deles. Fernando explicou que era brasileiro. Eles comentavam sobre o próprio país, os problemas políticos, a miséria, as favelas. Fernando comparava e dizia que no país dele também era assim. Todos estavam lá pelo mesmo motivo, fazer o teste para conseguir emigrar. Fernando não pode conter o pensamento de que apesar de Zimbabwe ser claramente pior que o Brasil em muitos aspectos, pelo menos havia um ponto positivo: em Zimbabwe se fala inglês e isso simplifica a vida dos que querem sair. Até nisso o Brasil impõe restrições, ainda que não propositais, aos seus emigrantes.
Continua...
Essa cidade não era assim tão longe, o voo durava uma hora. Na sala de embarque olhou ao redor: estava muito curioso sobre quem em sã consciência iria para um lugar com esse nome... Notou especialmente um homem, meio gordo, que cumprimentava todo mundo. Na certa devia ser um político. Olhou para Fernando, que sorriu de volta. Há políticos que estão interessados em Wagga-Wagga, pensou. Talvez não fosse um lugar tão ruim assim, afinal. Pensou brevemente em José Sarney e seu súbito e inexplicável interesse no Amapá... não, não podia ser a mesma coisa. Nada se parecia com o Brasil por aqui.
O avião parecia ser da Embraer, mas estava forrado com uma espécie de carpete imitação de vaca holandesa... e os assentos eram peludos. Que espécie de empresa era esta? "Outback airlines"? Todos sentavam organizadamente em seus assentos, não parecendo perceber nada estranho na decoração do avião-vaca. Fernando tentava fazer como os demais. Notava entretanto que o político continuava olhando para ele. Fernando respondeu com um sorriso amarelo e olhou para o outro lado.
A aeromoça se aproxima e perguntou, gentil: "Vai precisar de taxi em Wagga?" Fernando respondeu que sim, um pouco intrigado. Ela pediu seu nome e explicou que um taxi iria estar esperando por ele no aeroporto. Ao descer no pequeno aeroporto, percebeu que efetivamente havia um taxi esperando por ele. "Como Wagga é organizada" pensa, divertido. Não teve como ver a cidade, tudo estava escuro. O hotel que havia escolhido encontrava-se na metade do caminho entre o aeroporto e a cidade, em uma área aparentemente rural. A noite estava fria e estrelada, Fernando passou um tempo olhando o céu antes de entrar no quarto.
No dia seguinte, estava pronto para ir bem cedo para a prova de inglês. Tomou um ótimo café da manhã no hotel e conversou com a moça que servia o café. Ela explicou que quase sempre fazia frio de manhã em Wagga, mas hoje o tempo estava bom. "Como sabe? " pergunta Fernando. Ela aponta para um campo, pela janela e diz: "Está vendo, esse gramado? Quando faz realmente frio ele fica bem branquinho. Nunca neva, entretanto." Fernando olhou para o gramado que estava um pouco esbranquiçado. Depois do café foi dar um passeio por lá. O ar fresco a zero graus estava delicioso. A geada começava a derreter sob seus pés. Decidiu que estava pronto para a prova.
O taxi o deixou em um prédio do campus da universidade de Wagga. Não havia ninguém, ele tinha chegado mais de uma hora antes do horário do teste. Decidiu passear pelo campus. O sol nascia e iluminava uma floresta de eucaliptos com sua luz amarelada. Os troncos e a terra pareciam ter o mesma cor, e, de repente, nota que do ambiente monocromático um canguru o espreita. Amarelo, o canguru também. Pensou que os cangurus tinham essa cor para se confundir com a terra e com o ambiente. "Esses cangurus estão aqui há milhões de anos, eu acabo de chegar" pensou, achando divertido o contraste. Olhou para si mesmo, estava vestido de preto. O canguru não parecia muito preocupado, olhava como se estivesse curioso, como se estivesse pensando sobre quem era aquele estranho que ele nunca havia visto antes.
Já era hora do teste, voltou ao prédio, que já estava aberto. A moça com que tinha falado ao telefone no dia anterior já estava lá, esperando: "Você é o Fernando, não é mesmo?" O teste começaria em meia hora, conversou um pouco e disse: "Já agendei o seu teste oral para a 1:00, de modo que você não vai perder o ônibus nem o trem". Quanta eficiência... Fernando notou a atitude em Wagga era diferente da dos grandes centros. Aqui eles tinham receio que, se não houvesse procura pelo teste, ninguém viria nunca e todos perderiam o emprego. Depois de identificá-lo, pediu para que esperasse em uma sala.
Ficou sozinho por alguns instantes e pensou, divertido, que era o único que tinha se inscrito para fazer a prova em meses... Até que começaram a aparecer os outros. Um, dois, cinco, sete negros se sentaram ao redor de Fernando, que olhava, um tanto intrigado. Aí começaram a chegar negras, muito escuras, com certeza de algum lugar da Africa. O silêncio era geral, e todos olhavam para Fernando. Fernando não sabia bem o que fazer, até que o maior de todos, um negro com quase dois metros de altura se aproxima, olhando-o no rosto e com ar muito sério e um vozeirão grosso, diz:
"Velcom tzu Tzimbabve!"
Ele abre um sorriso luminoso e Fernando relaxa, rindo com a piada. Eram todos de Zimbabwe e começaram a conversar sobre o país deles. Fernando explicou que era brasileiro. Eles comentavam sobre o próprio país, os problemas políticos, a miséria, as favelas. Fernando comparava e dizia que no país dele também era assim. Todos estavam lá pelo mesmo motivo, fazer o teste para conseguir emigrar. Fernando não pode conter o pensamento de que apesar de Zimbabwe ser claramente pior que o Brasil em muitos aspectos, pelo menos havia um ponto positivo: em Zimbabwe se fala inglês e isso simplifica a vida dos que querem sair. Até nisso o Brasil impõe restrições, ainda que não propositais, aos seus emigrantes.
Continua...
2 comentários:
Zappi,
Volto aqui mais tarde estou adorando acessar a continuação do post!
Eu adoro seus posts!
Abrs
Zappi,
estou com dor na barriga de tanto rire na passagem:
-Aqui eles tinham receio que, se não houvesse procura pelo teste, ninguém viria nunca e todos perderiam o emprego.
-Ficou sozinho por alguns instantes e pensou, divertido, que era o único que tinha se inscrito para fazer a prova em meses...
-Até que começaram a aparecer os outros.
-Um, dois, cinco, sete negros se sentaram ao redor de Fernando, que olhava, um tanto intrigado.
- Aí começaram a chegar negras, muito escuras, com certeza de algum lugar da Africa.
- O silêncio era geral, e todos olhavam para Fernando.
-Fernando não sabia bem o que fazer, até que o maior de todos, um negro com quase dois metros de altura se aproxima, olhando-o no rosto e com ar muito sério e um vozeirão grosso, diz:
"Velcom tzu Tzimbabve!"
hahahaahahahahahahahahahahahahahahaha
ADOOOROOOOOOOOOO SEUS TEXTOS POSTS SEILA O QUE HAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
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