2007-04-27

Ao vivo é melhor...

Mas enquanto não dá para assistir ao vivo, assistam aqui a Nigel Kennedy, que visitou Melbourne no ano passado (veja aqui). Com vocês Nigel e o primeiro movimento da Primavera de Vivaldi:



2007-04-26

A "democracia" chega ao Brasil

É, só que infelizmente é a "democracia" de Cuba, em vez de ser a Democracia da Holanda ou Suécia. O Arnaldo Jabor criticou, com razão, os deputados por gastaram 1 milhão de litros de gasolina em 2 meses. Dez milhões de quilômetros. 250 voltas ao mundo, uma volta ao mundo por deputado. Essa gasolina daria para ir à lua e voltar 15 vezes. Isso é ou não um absurdo? Ouça o Jabor aqui.

Bom, o Arlindo Canalha (não sei a grafia correta) decidiu que o Jabor estava atacando a democracia. Pois bem, decidiu que o congresso brasileiro o processaria e foi aplaudido pelos deputados em plenário (veja aqui).

Está chegando, minha gente... a "democracia" de Cuba está aí. Processos kafkianos contra quem diz a verdade e uma montanha de puxa-sacos tentando tirar dinheiro do Estado, a grande mãe. Os canalhas que se cuidem. Assim como eles atacam os que defendem a verdeira democracia, vão ser também vítimas indiscriminadamente. Sem justiça, o que eles esperam?

Não se preocupem. Quando for a hora, eu vou com uma bandeira do Brasil para "Federation Square" aqui no centro de Melbourne, para pedir a libertação do Brasil do jugo do PT. Claro que os brasileiros precisam perceber antes o que está acontecendo. Os chineses que moram aqui reúnem-se todo ano para protestar contra a terrível ditadura chinesa. Quem sabe faço amigos chineses?


A inconcebível natureza da Natureza


Não resisti, este vídeo é mesmo fantástico. Nele Richard Feynman começa a descrever uma piscina onde muita gente pula e faz ondas que cobrem caoticamente a superfície da água. Imagina então um inseto inteligente que, flutuando em uma borda da piscina, analiza as ondas que recebe e, a partir do movimento, infere quem pulou na piscina, quando e onde. Difícil? É na verdade o que fazemos quando olhamos para alguém. A luz que consiste em oscilações do campo eletromagnético, chega aos nossos olhos e vemos alguém. Mas a maravilha é que alguém à minha direita pode ver alguém à minha esquerda ao mesmo tempo que eu olho para você. Os raios luminosos se cruzam mas não interferem, permitindo a todos ver ao mesmo tempo. A maravilha não termina aí: uma cobra é capaz de "ver" radiações cujo comprimento é maior que a luz visível, efetivamente "vendo" o calor irradiado da superfície de um rato, sua presa. Não conseguimos fazer isso. Há mais oscilações neste quarto, agora mesmo. Se eu ligar um rádio e sintonizar a Radio Moscow, ou uma emissora de TV, percebo que essas oscilações também podem ser percebidas, assim como as oscilações de um radar de um aeroporto vizinho que detecta os aviões pela reflexão dessas oscilações, tudo numa tremenda bagunça. Toda essa informação tremendamente complexa está realmente aqui, agora, conosco todo o tempo. Tudo isso que está aqui, e que todo mundo sabe que está aqui, é algo que não paramos para pensar e apreciar realmente: a fantástica complexidade da inconcebível natureza da Natureza.

Veja o vídeo e aprecie a deliciosa forma de Feynman se expressar e de comunicar a sua admiração pela vida e pela Natureza.

2007-04-24

Pecado dos cientistas

Os cientistas são um grupo excepcional. Minoria absoluta no mundo, talvez menos de 0,1% da população global, detêm praticamente um monopólio do conhecimento científico. Em sua maioria ateus, encontram na pesquisa científica e no lento avançar da ciência a satisfação de sua curiosidade intelectual, de suas inquietudes. Tive a sorte de conhecer alguns de perto, de entender a sua mente inquisidora, a sua sede de conhecimento e de saber.

Este grupo seleto gera praticamente toda a tecnologia na qual a sociedade moderna se apoia. Trilhões de transístores cuidadosamente ajustados e colocados em seus lugares permitem fazer com que o que escrevo na Austrália seja lido em qualquer lugar do mundo, em segundos. Há menos de 40 anos isso seria considerado um milagre, hoje é só mais uma corriqueira manifestação da ciência e tecnologia.

Mais mérito ainda tiveram os primeiros cientistas. Galileu Galilei, considerado o fundador do método experimental moderno com suas medições da velocidade da queda dos corpos, constituía parte de uma elite minoritária ainda mais impressionante que os cientistas de hoje. Por que ainda se fala de Galileu? Por que ele é um herói? Simplesmente porque estava certo pelas razões certas. Uma pessoa certa vale muito mais do que um bilhão de pessoas erradas.

Existe ainda um componente importante no heroísmo de Galileu, que terminou seus dias preso pela polícia religiosa católica, hoje extinta. Galileu era um grande comunicador e, mesmo estando proibido e ameaçado de tortura e morte, falou o que pensava.

Sir Isaac Newton, nascido no ano da morte de Galileu, apesar de ter sido talvez o maior gênio que a humanidade já teve, não tinha a habilidade comunicativa de Galileu. Os textos de Newton são secos, precisos, de uma lógica impecável mas, infelizmente, imperscrutáveis para os não iniciados. Por este mesmo motivo, não despertava muitas simpatias pessoais. Entretanto ele estava certo, e isso também fez dele um herói da humanidade.

Galileu era diferente: ele queria divulgar as idéias científicas para o maior número possível de pessoas. Pode-se dizer que foi o primeiro divulgador científico. Mesmo preso, arranjou o contrabando de seu maravilhoso livro ("Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze" clique aqui para comprar) que é considerado hoje por muitos o primeiro tratado de física. Escrito em forma de diálogos com três interlocutores, expõe claramente muitas das falácias de pensadores gregos, com os quais a igreja estava alinhada. O livro foi levado para a Holanda, um país que não estava sob a influência da polícia religiosa católica, e foi traduzido para diversas línguas. É sabido que Newton teve contato com ele.

Os cientistas de hoje descobrem curas para doenças, tornam a vida mais longa, desenvolvem computadores que prevêm o tempo, estudam maneiras de alimentar eficientemente a gigantesca quantidade de pessoas que, com a tecnologia de apenas 50 anos atrás, estariam morrendo de fome hoje. Entretanto os cientistas secretamente escondem um pecado, um pecado gravíssimo que pode custar à humanidade mais vidas que as perdidas em todas as guerras de toda a História.

Hoje, seguindo a tradição de Newton, os cientistas escrevem textos herméticos e secos, que não chegam aos não iniciados. Pouquíssimos dedicam um pouco de seu tempo à divulgação de ciência básica, à catequização de mentes infantis, hoje expostas a um sem-número de estúpidas idéias metafísicas inventadas pela igreja e por enganadores de todas as cores e credos. Os cientistas consideram estas atividades de divulgação uma perda de tempo.

Eu presenciei muitas vezes conversas de religiosos com cientistas. Quando o cientista cético percebe que está falando com um religioso, limita-se a concordar com a cabeça, tentando a todo custo não contrariar os dogmas mais bizarros. O cientista trata o religioso como se fosse um maluco: procura não contrariá-lo. Este é o grande pecado: um cientista, com seu compromisso com a verdade, deve discordar, argumentando lógicamente contra o dogma religioso ou da crendice supersticiosa. Quando não o faz está cometendo um ato covarde, está evitando o confronto e permitindo à mentira crescer e ganhar força.

Galileu discutiu com a inquisição e foi condenado. Cada cientista que evita o confronto com os ignorantes não está à altura da memória de Galileu: ainda que individualmente e perante os seus pares esteja fazendo a ciência progredir, a força destrutiva da ignorância é capaz de pôr tudo a perder. E hoje em dia a ignorância ganha força utilizando as ferramentas criadas... pela ciência!

A discussão com argumentos lógicos é fundamental. A educação científica básica deve ser prioridade. Cada pequenino ponto é importante, desde a descrição do funcionamento das células até as leis de funcionamento do cosmos. Todos os cientistas do mundo deveriam separar um décimo do seu tempo para estas atividades, interagir com as pessoas, entender e dirimir-lhe as dúvidas. Também devem mostrar que é razoável duvidar, que não saber não é um problema grave e que, assumindo a própria ignorância, pelo menos têm-se uma base para o progresso.

Essas discussões com religiosos muitas vezes terminam em uma pergunta, feita com um sorrisinho hipócrita no rosto, com um ar de deboche de quem sabe que não terá uma resposta satisfatória:

-Ah, seu sabichão! Então me diga o que aconteceu antes da criação do universo? Quem causou o "Big Bang"? Vai me dizer que não foi Deus?

Ao que o verdadeiro cientista responderia:

-Eu não sei o que aconteceu há mais de 10 bilhões de anos, eu não sei o que aconteceu antes do "Big Bang". Entretanto, ninguém sabe e você também não. O dia que você tiver uma resposta coerente, lógica e não inventada, eu serei o primeiro a acreditar.



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Pediria a todos os leitores que conhecerem um cientista que mandassem um link para este post. Usem o envelopinho abaixo. Quem tiver interesse em ler a condenação de Galileu pelo Papa, há uma cópia aqui (em Inglês). Clique na capa abaixo para comprar o livro de Galileu:





Enganadores

Gosto da bispa Sônia. Ganha milhões arrebanhando seguidores, enchendo galpões com pessoas que procuram a "iluminação". Gosto muito mais agora, que foi presa, e que é denunciada por outras seitas como uma enganadora.

Analisemos, entretanto o que esta mulher faz. Ela pede dinheiro que lhe é dado de bom grado pelos seus seguidores. Igualzinho ao padre Marcelo Rossi. Ela fala sobre histórias de pessoas 'salvas' pela fé, do mesmo forma que o rabbi Sobel. Prega guias morais e lê do seu livro sagrado, do mesmo jeito que Mahmoud Ahmadinejad, o líder do religioso estado iraniano. Não paga impostos, do mesma maneira que a igreja católica ou outros 'concorrentes' evangélicos.

Gosto muito dela. Pelo fato de ter caído em desgraça, provavelmente devido a seu sucesso estrondoso, ela ajuda a desvendar o que há de podre em todas as religiões. Os católicos ganharam bilhões de dólares vendendo indulgências. O que são? Indulgências são como vale-refeição: equivalem a centenas de anos de sofrimento no purgatório. O vale-refeição é trocado por comida, a indulgência é trocada por menos tempo no purgatório. A diferença é que você paga cash, mas a indulgência só pode ser trocada por um "serviço" quando estivermos escalando a montanha do purgatório... isso, claro, se o purgatório existir.

Se existe um pecado na bispa Sônia é o fato de ela não ter sido uma enganadora suficientemente safada, não ter enganado por tempo suficiente. O Vaticano, com suas obras de arte valiosíssimas, é um testemunho de que não existe um limite superior nos ganhos auferidos pela enganação.

Soltem a bispa Sônia. Não movam ações contra ela. Seria injusto se ela fosse presa quando tantos outros seguem seus caminhos livres e soltos. Ela roubou uma minúscula fração do que há para ser roubado, do dinheiro que os crédulos desesperadamente oferecem para os enganadores levarem.


2007-04-23

Deus e os embriões

É muito cansativo batalhar contra a ignorância, especialmente quando ela está em maioria absoluta. No entanto é necessário: se pararmos de divulgar a verdade os ignorantes dominam tudo, como já aconteceu muitas vezes na história humana.

É impressionante o amontoado de baboseiras que as pessoas são capazes de gerar. Em um recente debate no Estadão (aqui) sobre legalização de pesquisas com células embrionárias humanas eu tive contato com a produção intelectual de "pensadores" que não tem a menor idéia do que dizem.

Vejam esta figura aí à direita. Vocês sabem o que é? É uma minúscula célula que poderia pertencer a um verme ou a um inseto, mas neste caso é um óvulo fertilizado humano. Segundo algumas pessoas, se você matar isto, voce deveria ser condenado por assassinato. Por que? Porque isso, essa célula que desapareceria na cabeça de um alfinete, tem o potencial de se transformar em um ser humano.

Ok, mas para que esta minúscula esfera se transforme em uma pessoa algumas coisinhas são necessárias. Ela deve ser implantada em um útero de uma mulher viva e a gravidez deve ser levada a termo. Ah, mas ninguém se preocupa com a mulher, não é mesmo? Estão discutindo se é ou não crime destruir uma célula de menos de 1 milímetro, sem cérebro, sem sentimentos, sem movimentos. A opção? Tornar obrigatória a implantação destes em mulheres para fazer nascer mais pessoas? Não faz muito sentido. Bom, os religiosos nunca foram muito famosos por sua capacidade de pensar e de fazer sentido.

Agora, dê uma olhada na figura à esquerda. Sabe o que é isso? É um embrião, o objeto das discussões naquele forum do Estadão. Cadê o bebê? Bom, não dá para enxergar direito, são só 4 células. Está vivo? Sim, está, mas as pulgas também estão. Existe uma diferença: matar uma pulga é um ato muito mais cruel, as pulgas tem sistema nervoso, músculos, um cérebro e provavelmente sofrem. Este embrião não tem nada disso. Ele nem se importa se for esmagado.

A fé é considerada algo sublime, quando na verdade é ignorância na sua forma mais pura. Prefiro a verdade. E você?


País pobre, país rico

Era uma vez um país rico que insistia em subjugar um país pobre.

Era uma situação muito difícil para o país rico. Havia que gastar muito dinheiro mantendo violentas ditaduras militares de extrema direita. O custo político era altíssimo: manifestações de esquerdistas paravam as ruas do país rico com frases como "Liberdade para Pobrelândia" ou "Fim da dominação imperialista", e por aí vai.

A vida também não era nada fácil no país pobre. Havia uma oposição clandestina contra os militares, cada vez havia mais revolta e greves. Os militares agüentavam firme, mas necessitavam cada vez mais auxílio militar do país rico. Este auxílio era pago regiamente com minérios e diamantes, trocados por armamentos e tanques anti-motim. Em um esforço para tentar conter a intranqüilidade e livrar-se dos opositores, o regime militar criou um slogan "Pobrelândia, ame-a ou deixe-a!" e outro "Pra frente pobrelândia", mas nada adiantava.

Pobrelândia estava saindo muito cara para o país rico. Os militares exigiam cada vez mais pelos diamantes e minérios, chegou ao ponto em que não valia mais a pena gastar dinheiro nesse país idiota.

Foi aí que os eventos tomaram um rumo surpreendente: exatamente quando o país rico estava decidindo deixar os militares de Pobrelândia minguar à própria sorte, um representante do Partido Revolucionário Trabalhador de Pobrelândia (PRTP) solicitou uma audiência com o presidente do país rico. Este, que não era tonto nem nada, mandou em seu lugar o terceiro suplente do assessor do segundo adido militar, acompanhado de artilharia pesada e centenas de soldados e guarda-costas.

A proposta revelou-se interessante: o PRTP ou Partidão Pobretão, como era popularmente chamado, propunha auxílio para uma "transição democrática" e grana para eleger como presidente o Truculento Mulla, um sindicalista conhecido por acordos obscuros com patrões. Em troca, Truculento Mulla e o Partidão Pobretão venderiam as riquezas de Pobrelândia a preços muito mais camaradas que os milicos, além de destruir a oposição utilizando um método novo: o emburrecimento geral, um método muito mais eficiente e barato que os métodos tôscos e violentos dos milicos.

Um acordo verbal foi conseguido. Truculento Mulla sabia tudo sobre truculência. Era claro que o acordo não valia nada, mas o serviço secreto do país rico iria exterminá-lo e a toda a sua família se ele não cumprisse adequadamente a sua parte. Truculento Mulla não estava blefando, entretanto. Sabia perfeitamente que, se destruísse a economia de Pobrelândia, sobraria mais para ele e para os de seu Partidão Pobretão.

Simulando anti-imperialismo, ganhou os corações dos esquerdistas do país rico, que não entendiam nada do que estava acontecendo na realidade. O presidente do país rico disse que "não tolerariam regimes anti-democráticos" e forçaram os milicos a sair do país pobre. Truculento Mulla iniciou a sua campanha de destruição da classe média e de emburrecimento compulsório. Mediante pagamentos de subornos extremamente módicos, o país rico ganhou acesso irrestrito às riquezas de Pobrelândia e nunca mais enfrentou oposição interna. Nunca antes nesses países havia exisitido um acordo tão vantajoso para ambas as partes, o país rico e o PRTB, ou Partido Revolucionário Trabalhador de Pobrelândia, que insistia sempre ser chamado Partidão Pobretão, ainda que de pobre tivesse agora somente uma fina camada exterior, só para Inglês ver.

2007-04-22

Diego digo Diogo digo Diego...

O artigo do Diogo Mainardi na Veja está genial, vale a pena ler. Gostei muito do "otimismo" de Diego, digo Diogo.







O BACURI DO KENNEDY
por Diogo Mainardi, na Revista Veja

Eu sou o Bacuri do petismo. Bacuri foi torturado e morto pelo regime militar. Os informantes que a imprensa tinha no Deops e os informantes que o Deops tinha na imprensa souberam que ele seria morto duas semanas antes de o assassinato de fato ocorrer. Ao contrário do que fizeram com Bacuri, ninguém arrancou minhas orelhas, ninguém perfurou meus olhos. O regime militar era brutal. O petismo é só rasteiro. O colunista da Folha Online Kennedy Alencar noticiou que eu seria condenado no processo contra Franklin Martins um dia antes que o juiz efetivamente me condenasse. Se eu sou o Bacuri do petismo, Kennedy Alencar é o informante do Deops.

Na semana passada, aqui na coluna, dei um peteleco em Franklin Martins. Na segunda-feira, o antigo assessor de imprensa de Lula, Kennedy Alencar, publicou uma nota vaticinando qual seria o resultado do processo do ministro contra mim. Ele acertou até a quantia que eu teria de pagar: 30.000 reais. No dia seguinte, atropelado pelos eventos, o juiz Sergio Wajzenberg decidiu me condenar às pressas, antes de analisar minhas provas e antes de interrogar minhas testemunhas. Como sou parte em causa, tenho de tratar do assunto com uma certa cautela. A OAB, a corregedoria e a imprensa podem se ocupar do caso bem melhor do que eu. Mas a sentença do juiz Wajzenberg merece um comentário.

O juiz Wajzenberg, como José Dirceu, só me chama de Diego na sentença. É Diego para cá, Diego para lá. Eu, Diego, sou descrito como um camarada da melhor qualidade: inteligente, brilhante, digno, leal, honesto e cumpridor de meu papel social. Mas cometi um erro ao identificar Franklin Martins como simpatizante de Lula, embora ele tenha sido nomeado, um ano depois do meu artigo, ministro de Lula. O juiz Wajzenberg se define como uma "velhinha de Taubaté". Ele afirma que, como a velhinha de Taubaté, "prefere acreditar" que um jornalista pode desempenhar seu trabalho com autonomia, mesmo que todos os seus parentes sejam beneficiados com cargos no governo.

O juiz Wajzenberg absolve também o "povo brasileiro". Ele alega que, como um bando de índios, nós toleramos a prática do "escambo". Por isso, "um ato que pode parecer uma troca de favores na verdade pode significar um reconhecimento do poder político". O juiz Wajzenberg diz que, diante da falta de trabalho, moradia e saúde, temos dificuldade de "entender o que é bom e o que é ruim". Mas ele "prefere acreditar" que "a maioria do povo brasileiro é digna, acredita em Deus e age para que nosso futuro seja melhor". Contaminado pelo espírito benevolente do juiz Wajzenberg, prefiro acreditar que em nenhum momento ele sentiu o peso de julgar um ministro, prefiro acreditar que ele nem considerou a hipótese de favorecer um membro do governo para obter algum tipo de vantagem em sua carreira, prefiro acreditar que ele conduziu meu processo com lisura, prefiro acreditar que ninguém arrancou minhas orelhas e ninguém perfurou meus olhos.



O patcha nas cotchas

O Lula está adorando. Depois de arranjar 40 ministérios para melhor distribuir a roubalheira, vai eleger representantes para o parlamento latinoamericano (leia aqui), cuja sede será em Cochabamba. A moeda comum vai se chamar "Pacha" (pronuncia-se "Patcha") e o real ficará junto com o cruzeiro, o cruzeiro novo, os réis, os cruzados... esquecido para sempre.

Qual será a inflação do "Pacha"? Aposto que o valor dessa moeda será decidida por comissões no Parlamento Latino, e a julgar pelas avançadas idéias econômicas de Hugo Chavez (assista aqui), o valor do Pacha vai ser local, vai haver o Pacha do Norte, o Pacha do Sul, o Pacha do Centro...

É até emocionante ver o imenso esforço de três analfabetos para arruinar um continente inteiro. Subornam-se os ricos com altos lucros e favorecimentos, subornam-se os pobres com bolsa miséria, subornam-se os políticos com grana dos impostos, e o resultado? Um governo absolutista sustentado pela corrupção, sem oposição, sem classe média, sem revolução e sem progresso.

2007-04-21

Infraero, uma empresa modelo

Foi proibida a divulgação de que a Infraero é um antro de corrupção. Interessante, todo mundo sabe disso. Um juiz proibiu a circulação da revista Isto É, onde uma empresária de mídia aeroportuária denuncia um esquema nojento de superfaturamento e corrupção. Até o Duda Mendonça, esse paladino do trambique, está envolvido. Não é à toa que o sistema aéreo está essa droga toda: roubam tudo... Vejam a reportagem proibida aqui:

Cale-se!

Juiz dá liminar que proíbe circulação da revista IstoÉ

por Rodrigo Haidar

O juiz Sérgio Jorge Domingos, da 22ª Vara Cível de Curitiba, concedeu liminar nesta sexta-feira (20/4) proibindo a circulação da revista IstoÉ. O pedido para impedir a circulação da semanal foi feito pelo ex-prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi — hoje deputado federal pelo DEM e secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal.

O pedido, contudo, foi atendido com certo atraso. Parte das revistas já pode ser encontrada em bancas em São Paulo e já foi despachada para os assinantes. A capa de IstoÉ traz uma longa entrevista com a empresária Silvia Pfeiffer, na qual ela descreve um esquema complexo de corrupção na Infraero.

Na chamada de capa, a revista anuncia que a empresária “descreve em entrevista como os diretores da Infraero agiam para desviar dinheiro” e traz “os nomes, as cifras e os recibos de depósitos que mostram o esquema”.

Na entrevista, a empresária cita o nome de diretores da empresa que controla os aeroportos no país, de políticos e pessoas próximas ao poder: entre eles, Duda Mendonça e Cássio Taniguchi, que obteve a liminar. A revista IstoÉ vai recorrer da decisão.

Leia a reportagem e a entrevista de IstoÉ

A empresária paranaense Silvia Pfeiffer, 47 anos, diz que foi expulsa de sua própria empresa, a Aeromídia, assim que levou para lá, como sócio, o então secretário de Desenvolvimento Urbano de Curitiba Carlos Alberto Carvalho, em 2003. Ele tinha relações com o prefeito Cássio Taniguchi (DEM), hoje secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal, e passou a controlar toda a contabilidade da Aeromídia. A partir daí, segundo Silvia, uma “verdadeira máfia” começou a utilizar a empresa como fachada para desviar dinheiro público para fins privados. Entre esses negócios, polpudos contratos com a Infraero, que ultrapassaram os interesses iniciais de Cássio Taniguchi e permaneceram com o governo Lula.

Conhecedora dos caminhos dessas fraudes, Sílvia é hoje uma importante testemunha para quem estiver efetivamente interessado em saber como a estatal que administra os aeroportos brasileiros alimenta milionários dutos de corrupção, alguns deles já detectados pelo Tribunal de Contas da União. Em mais de dez horas de entrevista, Silvia detalha como tal esquema se espalhou e criou tentáculos para promover lavagem de dinheiro, caixa 2 de campanhas políticas e propinas às autoridades. Na quarta-feira 18, depois de ter concedido entrevista a ISTOÉ, Silvia recebeu ameaças de morte e alguns pedidos para que nada mais falasse e para que negasse o que já havia dito.

Boa parte do que ela sabe já foi escrito e entregue à Polícia Federal em outubro de 2005, mas ela jamais foi chamada para um depoimento formal. Ou seja, apesar da gravidade, tudo indica que suas denúncias ficaram engavetadas, embora parte do que ela diz seja comprovada por documentos como depósitos bancários.

ISTOÉ – Por que só agora a sra. Decidiu tornar público tudo o que sabe sobre corrupção na Infraero?

Silvia – Eu não estou fazendo isso agora. Em 2005 entreguei uma notícia-crime à Polícia Federal, mas, depois, ninguém me procurou para falar sobre isso.

ISTOÉ – Como é desviado o dinheiro da Infraero?

Silvia – A chave inicial do esquema é o superfaturamento das obras, que o TCU mesmo já disse que chega a 375% do valor. São números absurdamente altos. Essas obras eram todas negociadas.

ISTOÉ – Por quem?

Silvia – Os empresários que tinham contratos com a Infraero repassavam dinheiro para Carlos Wilson, que era o presidente da empresa, e para diretores, como a Eleuza Therezinha Lopes, o Eurico José Bernardo Loyo e o Fernando Brendaglia. E também para políticos que faziam todo o meio de campo. Ia dinheiro para a campanha do Carlos Wilson e não tenho dúvida que dali também saiu dinheiro para a campanha de reeleição do presidente Lula.

ISTOÉ – Como provar isso?

Silvia – Basta quebrar o sigilo das empreiteiras, dos diretores da Infraero, dos superintendentes. A Aeromídia mesmo fez depósitos para alguns diretores.

ISTOÉ – Alguns nomes de diretores que a sra. Menciona já apareceram em outras denúncias contra a Infraero, como Eleuza Therezinha, mas permanecem em seus cargos.

Silvia – Ela é da equipe do Lula, do Carlos Wilson. Essa aí, acho que vai ser meio complicado. O Mário Ururahy, que recebia mensalão da Aeromídia no Paraná, hoje é assessor da Eleuza.

ISTOÉ – Como era pago esse mensalão?

Silvia – Os valores variavam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Havia também presentes: carros, festas, jantares.

ISTOÉ – Outros diretores da Infraero também recebiam mesada?

Silvia – Luiz Gustavo Schild, diretor de Logística e Carga. Ele foi superintendente na sede. Conduzia as negociações para as lojas Duty Free. Depois, foi afastado, transferido para superintendente de Cargas, porque estava para explodir todo este bafafá da Brasif.

ISTOÉ – Que bafafá?

Silvia – A Brasif ganhava todas as concorrências para os free shops nos aeroportos.

ISTOÉ – O que há de concreto nessa denúncia que a sra. faz de que o presidente Lula possa ter sido beneficiado nesse esquema?

Silvia – A proposta que me fez certa vez um dos maiores amigos de Lula, o empresário Valter Sâmara.

ISTOÉ – Que proposta?

Silvia – Encontrei Valter Sâmara em um vôo de Curitiba para Brasília, em 2004. Nesse vôo, ele insistiu que eu fosse falar com a secretária de Lula, Mônica, no Palácio do Planalto. Ele me falou que qualquer coisa que eu quisesse na Infraero a Mônica seria capaz de resolver para mim. E que ela, então, receberia 10% de comissão para o partido, o PT.

ISTOÉ – Ele disse que o dinheiro seria para a campanha do Lula?

Silvia – Não ficou claro. Disse que era para o PT.

ISTOÉ – E a sra. Chegou a procurar Mônica?

Silvia – Não. Eu não fui. Apesar da grande insistência dele. Ele me procurou no hotel várias vezes. Em um dia só, ele ligou várias vezes no hotel para que eu fosse lá.

ISTOÉ – Esse foi o único encontro que a sra. teve com Valter Sâmara?

Silvia – Houve uma outra vez, em que ele foi a Brasília almoçar com Lula, dona Marisa e uns chineses que estavam no Brasil, fazendo negociações com o governo federal. O Sâmara está sempre em Brasília. Ele inclusive comprou uma chácara em Goiás para encontros políticos. Se não me engano, tem até pista de pouso.

ISTOÉ – Como é que a sua empresa se envolveu com esse esquema?

Silvia – No início, quando Carlos Alberto Carvalho me procurou pela primeira vez, era para fazer arrecadação de dinheiro para a campanha de reeleição de Cássio Taniguchi para prefeito de Curitiba. Às vezes em dólar. Os políticos do Paraná, ligados a Taniguchi, reuniam-se freqüentemente na Aeromídia para discutir a formação desse caixa 2. O que eu nunca entendi bem era por que, já naquela ocasião, o Padre Roque (deputado do PT do Paraná) aparecia nas reuniões.

ISTOÉ – O que se discutia nessas reuniões?

Silvia – Eles instruíam como as pessoas deveriam se comportar na polícia, se alguma coisa acontecesse. Um dia, chegou a aparecer na empresa uma mala grande de dinheiro. Parte de US$ 7 milhões.

ISTOÉ – Esse esquema continua ativo?

Silvia – Com certeza está vivo. O homem do Cássio hoje na prefeitura é o Beto Richa. Um dos homens dele, o advogado Domingos Caporrino, me ligou hoje me mandando calar a boca.

ISTOÉ – O que a sra. denuncia começou com o Taniguchi e permanece até hoje. Que outros nomes estão envolvidos?

Silvia – Com certeza o Marcos Valério e o José Dirceu.

ISTOÉ – Qual seria o envolvimento de Dirceu?

Silvia – Ele tem contatos com o diretor comercial da Infraero, Fernando Brendaglia. Quando Dirceu esteve em Portugal naquelas negociações com a Portugal Telecom, Brendaglia estava com ele. E Emerson Palmieri, que estava em Portugal com Dirceu, também tem contatos no esquema da Infraero. Ele seria mesmo uma espécie de link entre Brendaglia, Dirceu, Marcos Valério e Cássio Taniguchi. Emerson Palmieri esteve várias vezes nas reuniões na Aeromídia.

ISTOÉ – Em troca do pagamento desse mensalão, o que ganhou a Aeromídia?

Silvia – Contratos nos aeroportos. Muitas vezes irregulares. Um dos contratos envolve o Duda Mendonça. Um contrato que não poderia acontecer. O pessoal do aeroporto de Brasília me respondeu que era impossível eu fazer publicidade naquela área. No entanto, foi feito sem licitação.

ISTOÉ – E qual era o envolvimento de Duda Mendonça?

Silvia – Eu veiculava um anúncio que era feito pela agência dele. A questão do Duda ali é que ele não roubava essas migalhas. O contrato era a desculpa para que a agência dele fosse contratada para fazer o anúncio. O que ele pegava em dinheiro grosso mesmo vinha da Brasil Telecom, a anunciante.

ISTOÉ – E a sua participação, qual era?

Silvia – Eu negociava com a Zilmar Fernandes (sócia de Duda Mendonça). Esse contrato é ilegal com a Infraero. O Fernando Brendaglia é quem autorizou a colocação da publicidade antes de ter o contrato.

ISTOÉ – A Zilmar tinha consciência de que era contrato irregular?

Silvia – Tinha. Quando houve um problema num contrato anterior, que foi fechado, nos fingers de 1 a 7, chegou a haver uma ordem para arrancar todos os adesivos que já estavam colocados. Foi quando a Zilmar entrou. Fizeram alguns acertos e os adesivos continuaram. Um contrato de três anos, sem licitação. Um contrato que ele entrou no aeroporto antes mesmo de sair em Diário Oficial da União, antes de assinar o contrato. Deu um rolo, os concorrentes reclamaram. O Brendaglia chegou a chamar uma dessas empresas que protestavam: “Fique quieta, vou te dar outro espaço, mas deixa esse contrato aqui, nãomexe com isso não.”

ISTOÉ – Além da Aeromídia, que empresas fecham contratos irregulares com a Infraero?

Silvia – Todas. Absolutamente todas. Kallas, Codemp, Via Mais. A SF3, que, na verdade, é do Brendaglia. E do Carlos Wilson. Porque eles são sócios em tudo, até em uma fazenda de frutas em Petrolina. Frutas para exportação. Há um contrato que envolve a empresa de um filho de Reinhold Stephanes.

ISTOÉ – O ministro da Agricultura?

Silvia – Esse. Me tiraram da jogada. Era um contrato enrolado. Um contrato no Rio, para um consórcio, Ductor, do qual participava a Cembra, empresa de Marcelo Stephanes, filho do ministro.

ISTOÉ – O TCU tem encontrado irregularidades também nas obras de ampliação dos aeroportos.

Silvia – É verdade. Tudo é superfaturado. A Odebrecht, por exemplo, no aeroporto de Recife. A Andrade Gutierrez no aeroporto de Curitiba, OAS no aeroporto de Salvador. Uma empresa de São Paulo ganhou a obra de Brasília e furou o esquema. Eles então trataram de tirar a empresa da obra. A corrupção ali é muito grande. A Infraero investiu mais de R$ 3,2 bilhões em obras. Se quebrar o sigilo bancário dos diretores da Infraero, dos superintendentes, na engenharia, que cuida das obras, se encontrará um absurdo.

ISTOÉ – Como a sra. pode dizer isso com tanta convicção?

Silvia – Eu vi tudo isso por dentro. Eu presenciei uma reunião com a construtora DM aqui em Curitiba. Um arquiteto chamado Ricardo Amaral vendeu por R$ 200 mil um projeto para cada empreiteira. Ele entregou antecipado o projeto, para construir o edifício-garagem do aeroporto, cobrou R$ 200 mil e não saiu a obra. A Eleuza sabia disso. A Eleuza esteve dentro do escritório dele, em reunião com os grandes empreiteiros. OAS, Odebrecht, CR Almeida e Andrade Gutierrez.

ISTOÉ – O novo presidente da Infraero, o brigadeiro José Carlos Pereira, há algum envolvimento dele com esses casos de corrupção?

Silvia – Não. Mas ele não consegue demitir os diretores porque o esquema montado no passado permanece rendendo muito.

ISTOÉ – No Paraná, dizem que a sra. possui dois CPFs.

Silvia – Depois de ter feito a denúncia na PF, minha bolsa e meus documentos sumiram misteriosamente. Posteriormente, soube que emitiram CPFs em meu nome. Mesmo que tentem me desqualificar, vou levar minhas denúncias até o fim.

Revista Consultor Jurídico, 20 de abril de 2007




Lula e os crimes hediondos

O governo, no meio do turbilhão causado pelas operações da PF, aprovou uma lei interessante: agora é mais fácil para quem praticou crimes hediondos conseguir liberdade provisória (ouça aqui). O governo federal embute esse trambique na lei e os deputados nem percebem? Nada me tira da cabeça que há algo acontecendo entre o PCC e o Lula. A reação do governo ao caso do menino João Hélio foi facilitar a vida dos bandidos? A mensagem é clara. Querem calar a boca de todo mundo que teve algum parente assassinado. Ainda por cima o Lula não perde a oportunidade para dizer que os assassinos são na verdade pobrezinhos que foram esmagados pelo capitalismo brasileiro.

A Polícia Federal e todas as polícias brasileiras podem prender todos os bandidos do Brasil: o Governo Federal está aí para garantir-lhes a liberdade. O PCC manda no Lula. O Marcola deve ser o cérebro que está por trás desse governo do vomitivo PT.

Estou preocupado: não vi esta notícia em nenhum blog ou jornal, só na CBN. Por acaso é um furo?

2007-04-20

Cadáveres do descaso - 2

Recebi diversos comentários sobre o "assassinômetro" que coloquei no meu blog e que o Tambosi também colocou no seu. Algumas pessoas não acreditam nos números, dizem que não pode ser que haja tantos assassinatos, e por aí vai.

Eu não estou pedindo para ninguém acreditar em mim. Os dados são do IBGE. No Brasil morrem assassinadas umas 50 mil pessoas por ano. No "assassinômetro" há dados desde 1980, ou seja dos últimos 27 anos. Se a média fosse 50 mil por ano haveria mais de um milhão de mortos (27 x 50 mil = 1,35 milhão). O que acontece é que as taxas de violência eram muito menores nos anos 80 e desde então só foram mortas 900 e tantas mil pessoas. Veja neste site do SUS. Para facilitar a vida do leitor, veja as estatísticas recentes. Estas mortes consideram só causas violentas:
Óbitos p/Residênc segundo Ano do Óbito
Grande Grupo CID10: X85-Y09 Agressões, Y10-Y34 Eventos cuja intenção é indeterminada, Y35-Y36 Intervenções legais e operações de guerra, Y85-Y89 Seqüelas de causas externas
Período: 2002-2004
Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM
AnoMortes
200262.661
200362.914
200460.770

Há outras maneiras de calcular o número de assassinatos. As estatísticas mais otimistas falam em 23 assassinatos por ano por grupo de 100.000 habitantes. As pessimistas falam em 36 assassinatos por ano por grupo de 100.000 habitantes. Os resultados variam entre 41.000 e 64.000 mortos por ano. Entretanto os dados do IBGE são oficiais.

É difícil entender estatísticas, e os assassinatos normalmente envolvem gente pobre que mora na periferia. O que é importante saber é que no Brasil se mata tanta gente que estão sobrando mulheres. Isso mesmo: a maior parte das vítimas é de homens jovens e isso está fazendo com que a proporção de mulheres na população geral aumente.

Só para finalizar vou contar uma historinha de quando eu estava no Brasil. Eu trabalhava em um edifício que tinha uns 12 funcionários entre porteiros, vigias e garagistas. Imagino que cada um desses funcionários tinha uma família de, digamos, 10 pessoas, contando companheira e filhos. Estamos portanto falando de um universo de 120 pessoas que moravam na periferia. Pois bem, em um ano, acho que foi 2002, o filho de um funcionário foi assassinado, e a mulher de outro também. Nos dois casos os funcionários tiveram que se mudar, pois os bandidos os ameaçaram de morte se continuassem morando onde moravam. Razões para os assassinatos? As mais idiotas: o filho do porteiro se meteu com uma turma de marginais e a mulher do outro foi vender yakult em um quarteirão que era território da mulher de um bandido.

Pois bem, se considerássemos este universo de 120 pessoas que vivem na periferia de S.Paulo, 2 mortes em um ano significariam uma taxa de assassinatos de, pasmem, 1700 mortos por ano por 100.000 habitantes!

Naturalmente os resultados deste pequeno exemplo não são estatísticamente significativos, dado que o grupo de 120 pessoas que usei como universo não é grande o suficiente. Os assassinatos estão aí, entretanto, para quem quiser ver. Quem não quer acreditar, que não acredite.

Para usar o reloginho em seu blog, basta copiar e colar no blog o seguinte código. A atualização ocorre cada vez que se carrega a página:

<iframe src="http://zappitec.com.br/we751ab/strangemansparadise/murders.php" frameborder="0" height="140" scrolling="no" width="230"></iframe>


2007-04-19

Quanto e' bella, quanto e' cara



Donizetti, L'elisir d'amor. "Quanto mais a vejo, mais gosto dela." Há como descrever melhor a paixão?

2007-04-18

Vamos fechar os olhos?

Estou lendo pela segunda vez o racional e muito bem escrito "Mundo assombrado pelos demônios" de Carl Sagan (clique na capa para ver detalhes ou comprar na Cultura).

Carl Sagan explica de maneira cristalina como as pessoas chegam ao ponto de querer ser enganadas. Por que estou falando nisso? Porque vi no blog do Reinaldo Azevedo a forma como ele trata a questão do aborto. Hoje, segundo o ministro da Saúde, mais de um milhão de abortos são feitos clandestinamente. Para quem gosta de contas, são mais de 24 mil por semana ou mais de 3 mil abortos por dia.

É claro que isso é uma situação calamitosa: os abortos feitos de forma clandestina são muito mais perigosos do que os feitos em condições médicas controladas.

É triste notar que o Reinaldo Azevedo, cuja opinão em outros assuntos respeito, tem a clássica mentalidade religiosa descrita no livro de Sagan. Como é católico fervoroso, condena o aborto como "assassinato". Nesse aspecto, em vez de propor soluções, entusiasma-se com o fato de que o brasileiro rejeita a descriminalização do aborto e o PT defende um plebiscito a respeito.

Vou colocar a coisa em termos simples: abortar um feto de menos de 12 semanas, mero aglomerado de células sem sistema nervoso, não se compara a colocar no mundo uma criança sem condições de mantê-la. O segundo ato é infinitamente mais criminoso. Mesmo clandestinos, os mais de um milhão de abortos que ocorrem no Brasil são benéficos se comparados com o que aconteceria se estas crianças nascessem. Descriminalizar o aborto impondo um limite de tempo na gestação é a única opção razoável.

Vamos imaginar por um momento que Reinaldo estivesse certo: vamos seguir a lei e prender todas as mulheres que realizam abortos, os médicos, todo mundo. O que vocês acham que aconteceria?

Em seu excelente livro, Sagan comenta:
"Se somos enganados por tempo suficiente, tendemos a rejeitar qualquer evidência de nosso engano. Não temos mais interesse em descobrir a verdade. O engano nos dominou. É demasiado doloroso admitir, mesmo para nós mesmos, que fomos capturados. Uma vez que você dá poder sobre você mesmo a um charlatão, é quase impossível recuperá-lo."

O enganador charlatão pode se chamar Lula ou Papa Bento, Bispa Sônia ou Paulo Maluf, Collor ou Padre Marcelo, Stedile ou Henry Sobel. É menos vergonhoso continuar no erro, rezando pela cartilha do safado, do que admitir que fomos ludibriados.

Vamos fechar os olhinhos, Reinaldo?

2007-04-16

Depoimentos

"Você tinha razão quanto ao PT ser pior que o PSDB. Antes do Lula tínhamos que dar umas gorjetas na Infraero. Agora o sistema ficou profissionalizado: tem uma espécie de leilão reverso de suborno. Ganha o contrato quem pagar mais."
Anônimo

"No Brasil, uma vez estava sentado em um bar em uma pequena cidade nordestina e ouvi dois caras combinando o assassinato de alguém. Falavam alto, sem medo, só para mostrar quem é que mandava por lá. Discretamente, levantei-me e fui embora, sem olhar para trás"
Anônimo

"Depois que saí de lá, meu patrão no Brasil ligou para oferecer mais grana se eu voltasse a trabalhar para ele. Telefonou só agora que já estou aqui? Gozado isso. Sabe o que eu tinha que fazer, entre outras coisas? Levava envelope com grana viva para subornar controladores de vôo. Eu não quero voltar para lá. Outro dia peguei um ônibus aqui (Australia) e um pedreiro sentou do meu lado. Era um pedreiro mesmo, estava todo sujo de reboco e tinta. Sabe o que ele fez? Tirou um livrinho do bolso e começou a ler. Eram poemas de Shakespeare. Eu não volto para o Brasil nem a pau!"
Anônimo

"Prefiro ser lixeira na Australia do que rica no Brasil"
Anônima

Quantos brasileiros vale um americano?

Como é bom falar mal de americanos, não é mesmo? Os jornais brasileiros só falam do massacre da universidade na Virginia: até agora contaram 33 mortos. Que absurdo!

O absurdo é que os repórteres petistas não se preocupam com brasileiros mortos. Só desde a semana passada tivemos no Brasil uns 30 massacres da dimensão do que aconteceu nos Estados Unidos. Quem se importa? Ninguém.

Durante anos os jornais brasileiros dão destaque aos mortos na Palestina, aos homens bomba em Israel, aos atentados no Iraque. Todas essas mortes são nada se comparadas à carnificina que ocorre "normalmente" no Brasil. Só para ter uma idéia, morreram mil soldados americanos no Iraque. Só mil!

Os jornais americanos começam a entender o grande genocídio brasileiro, que superará Auschwitz em muito pouco tempo. Um artigo no Washington Post mostra que os assassinatos nas favelas do Rio já são macabra rotina (obrigado ao Tambosi pelo link).

Quanto vale um brasileiro? Segundo os repórteres do Brasil, pelo destaque que dão aos assassinatos e crimes no Brasil, pouco ou nada. Segundo o governo Lula, pouco ou nada. Então tá.

2007-04-10

Primeiro encontro

Uma São Paulo que não existe mais, o primeiro encontro com um sentido novo, os dias de hoje. Leia mais aqui, no blog neuryanas.


2007-04-09

Cadáveres do descaso

Com dados do IBGE, colocarei no meu blog este widget, que atualiza os dados continuamente. É só para lembrar que o combate ao crime deve ser uma prioridade de todos as esferas governamentais: Federal, Estadual e Municipal. Não adianta querer crescimento econômico em um país com uma guerra não declarada em curso. Se quiser adicionar em seu site, mande um comentário e eu fornecerei o código.

2007-04-08

Violino

Nathan Milstein interpreta a partita n.3 para violino desacompanhado de Bach. Para quem quer ouvir música de violino, eis a oportunidade.




Conservar o mundo ou acabar com ele?

Há os eco-loucos e há os que reagem violentamente contra eles. Nenhuma das duas posições está correta. Os eco-loucos, por não saber Ciência, reagem desordenadamente e muitas vezes guiados por ignorância, motivos torpes ou interesses de grupos que os manipulam. Os que a eles reagem tampouco entendem nada do que está acontecendo no nosso planeta, agindo também inadvertidamente de acordo com interesses financeiros.

Quando estudamos Ciência começamos a entender que um gigantesco esforço de conservação do meio ambiente é necessário e que a Terra não pode manter os bilhões de pessoas que mantêm hoje sem que haja uma perda irreversível e irrecuperável. Quem não se importa que uma espécie de formiga dourada das florestas de Cuba desapareça do planeta não entende nada sobre a perda terrível de informação inestimável e sobre as insuspeitadas maravilhas ainda por descobrir neste mundo fantástico.

Só para dar um exemplo simples: há milhões de espécies de bactérias que não conhecemos. De uma delas pode vir um remédio necessário contra as super bactérias resistentes a antibióticos que cada vez matam mais pessoas. Assistam a este vídeo, onde E.O.Wilson, um entomologista, explica porque não devemos continuar destruindo o ambiente. Há muito que aprender com cada organismo ainda desconhecido e que talvez, por pura estupidez, nunca venhamos a conhecer.




2007-04-07

Bala perdida e brasilidade

Visto de longe o Brasil é quase engraçado. Recentemente a mídia decidiu criar um novo conceito: o da bala perdida. Esta seria a causadora de diversas mortes de inocentes pelo Brasil afora. Só no Rio de Janeiro ela sorrateiramente mata uma pessoa por dia.

Como pode ser? Como é que não sabíamos antes que havia tal assassino à solta? A bala perdida deveria ter sido reconhecida como um matador compulsivo há muito tempo atrás. A Globo forçou e as autoridades aceitaram: a partir de agora, a bala perdida será categorizada como um evento à parte, mostrada em estatísticas e, claro, combatida como a ameaça letal que representa.

Um momento... alguém deve ter disparado a tal da bala, não é mesmo?

O próprio conceito de "bala perdida" isenta de culpa o assassino que a disparou. Tenha sido o assassinato de alguém voluntário ou involuntário, não é a bala que deve ser responsabilizada pelo ocorrido.

No Brasil é diferente. Segundo o conceito de brasilidade que desenvolvi neste blog, um brasileiro, confrontado com duas opções sempre escolherá a mais fácil, independentemente de ser a melhor.

Aqui temos duas opções. As balas perdidas são o subproduto de tiroteios constantes que matam milhares de pessoas por mês. Assassinos brasileiros matam 50 mil pessoas por ano. É natural que alguns dos disparos atinjam pessoas que não tinham nada a ver com a briga. O que é mais fácil: declarar guerra ao crime e prender os assassinos soltos ou definir um novo culpado, letal mas anônimo, irresponsável e irresponsabilizável, rápido, sorrateiro e inalcançável? Que dúvida! A bala perdida é a melhor solução para o verdadeiro brasileiro.

Em pouco tempo a densidade do tiroteio que se chama "Rio de Janeiro" será tão alta que eventualmente alguns aviões serão atingidos por balas perdidas. Nem aí será declarada guerra ao crime: a brasilidade dita que a melhor solução será fazer com que os aviões evitem sobrevoar favelas ou a linha amarela.

Tudo está perfeito. O Brasil continua imperturbável em seu caminho para a brasilização total. Só me resta desejar a todos feliz Páscoa. Ooops, não a todos. A bala perdida não merece meus votos. Ela é muito, muito má.

2007-04-05

Investidores estrangeiros

Um artigo da Economist desta semana comenta os altíssimos retornos do mercado de ações brasileiro. O articulista chega à conclusão de que os investidores estão aprendendo a distingüir o Brasil de vizinhos mais radicais como a Venezuela:

What lies behind these figures? Despite the anti-business vitriol of Latin American leaders like Venezuela's Hugo Chávez, foreign investors are learning to distinguish Brazil from its more radical neighbours. Foreigners now account for about 35% of trading on Bovespa, up from 25% two years ago. They snapped up 75% of recent IPOs.

Bom, quem sou eu para negar, né? Eu não estaria comprando ações no Brasil se fosse um desses gringos. Evito Morales e Huguito Chavez são demasiado íntimos do Lula para que o meu índice de risco econômico caia. O Brasil é corrupto demais. O Lula é mentiroso demais. O PT é um antro de criminosos.

Com informações furadas como as da BBC e da Economist, não é à toa que os estrangeiros estejam caindo na armadilha do PT. Só espero que não fiquem muito nervosos quando perderem tudo o que investiram.

2007-04-04

A miss foi roubada... no senado.

Coitada! A Miss Paraná deixou uma bolsa em um sofá e... foi roubada. O detalhe é que ela estava dentro do Senado Federal.

Bom, que vários senadores são amigos do crime já é sabido. Deve haver algum motivo para senadores como o Mercadante quererem mais criminosos na rua. Mão de obra barata, talvez, para cargos de confiança?

Não contentes com o roubo institucionalizado que promovem, não contentes com os seus vencimentos milionários, operam também uma rede de pequenos delitos dentro do Senado Federal. Deve dar lucro, não é mesmo?


2007-04-03

Muito além da burrice

Diz-se por aí que o problema do governo Lula é a incompetência, que Lula não é preparado, que é burro. Muitos dizem também que os seus assessores, ex-sindicalistas e ex-guerrilheiros, não tem competência administrativa e por isso o Brasil patina. A realidade é muito mais deprimente, caros leitores.

O PT domina hoje todas as estatais, em especial a Petrobrás e o Banco do Brasil com sua ideologia comuno-grevista. Os setores essenciais foram tomados, um a um. Os correios, o sistema de distribuição elétrica. Lamentam até hoje a privatização das teles, onde teriam adorado se lambuzar. É mais do que claro que a única razão dos telefones ainda funcionarem no Brasil foi essa herança bendita do Fernando Henrique.

O PT domina também o sistema de segurança. Como as polícias são estaduais, o PT domina através do controle dos bandidos, via máfia. O PCC está quietinho agora, e não é por causa da repressão. É porque o Alckmin já perdeu.

O PT também domina o setor de controle do tráfego aéreo. As notícias dão a entender que o Lula está perdendo popularidade por causa deste assunto. Ninguém menciona que a classe que o elegeu está adorando: as "elites" que se ferrem, companheiro pobre não anda de avião. O PT não perdeu um único voto. A CUTização dos controladores é só mais um tentáculo monstruoso do PT que domina o Brasil. Eles têm o controle aéreo, dos presídios, dos bandidos, de todas as estatais. A Receita Federal agora terá poderes de polícia "para combater a escravidão", dizem eles. A verdade é que a Receita Federal, com seu emaranhado de leis absurdas, terá o poder de vida e morte sobre empresas, gerando ainda mais "jeitinhos" que fluem diretamente para o partido e arbitrárias decisões de fechamento de firmas de inimigos políticos.

O PT domina o congresso. Domina o senado. Criou uma monstruosa máquina de ministérios sob seus desígnios. Não tem vergonha e nem nunca terá. Domina os militares, controla a Globo e a Folha de São Paulo. Domina as universidades públicas, federais e estaduais. Controla até as notícias veiculadas nas agências estrangeiras, na Economist e na BBC. Está criando uma rede de TV para mostrar o Lula 24 horas por dia e repetir propaganda do partido. E ainda tem gente que acha que a oposição tem alguma chance em 2010.

A infiltração insidiosa e paulatina desses que se dizem amigos do "trabalhadô" está nos momentos finais. A próxima etapa é a instalação de um regime democrático como quer o PT. Como a democracia da extinta comunista Alemanha Oriental - "República democrática Alemã". Como a democracia de Hugo Chavez. Como a maravilhosa democracia de Cuba e Angola.

Associar o PT a burrice é um erro grave. Agora falta pouco, muito pouco. Todos vão perceber o que está acontecendo de verdade.