Naquela segunda-feira, B. vestiu suas máscaras e saiu para trabalhar. Mas havia algo errado com seu passaporte...
B. abriu os olhos exatamente às 6 horas, como fazia sempre, mas estranhou o fato de que o alarme do celular não tocou naquela segunda-feira. No domingo houvera uma confraternização virtual com os colegas de trabalho, e B. tinha tomado umas cervejas a mais. Nada que um bom café automático não resolvesse. Dirigiu-se até a cafeteira instalada na cozinha-sala de sua máquina de morar, mas o equipamento surpreendentemente recusou-se a funcionar.
Resignado, B. lavou o rosto com água fria, escovou os dentes, fez a barba, colocou a roupa de trabalho e vestiu as duas máscaras com a marca do Partido. Como o elevador demorasse muito a chegar, B. resolveu descer os nove andares pelas escadas. “É até bom, assim faço exercício”, pensou.
Deu bom-dia ao porteiro, que não respondeu. Caminhou uns metros sentindo o vento da manhã no rosto. Sentia-se faminto, precisava pelo menos tomar uma xícara de café e comer um pão com manteiga antes de entrar na repartição. Assim que B. colocou os pés na padaria da esquina, o alarme sonoro-luminoso do Coletivo de Saúde Pública soou de maneira aguda e torturante. Todos os olhares ― dos fregueses, dos funcionários e do agente municipal de plantão ― se voltaram para ele: sentiu-se alvejado por várias expressões simultâneas de impaciência e raiva.
Uma senhora vestida com escafandro mandetta disse pelo buraco da fala:
― É por causa disso que o país não vai pra frente.
Leia o resto aqui. Vale muito a pena.
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