Eu não quero que acreditem em mim. Se eu disser que o mundo vai acabar, peçam provas. Analisem o que digo. Pensem. Cheguem a uma conclusão sozinhos. Só assim vocês terão certeza de que o que eu digo é verdade - ou não. Tem um detalhe, entretanto: isso vale para todos.
Nos últimos dois anos uma série de livros de quatro autores com a mensagem acima foram publicados. Gozaram de um sucesso editorial enorme. Fizeram muita gente pensar. Na verdade, fizeram muita gente declarar, orgulhosa, que achava que a doutrina da transubstanciação é um engôdo vergonhoso e a infalibilidade papal só pode se referir à infalibilidade da morte do papa. Sim, porque até agora a única coisa infalível a respeito de um papa é a sua morte que virá, inexorável. Ter fé em tudo que um velho diz "por definição" é até pior que acreditar na virgem grávida.
O mundo nunca mais será o mesmo. Foi-se o tempo no qual não se podia expor ao ridículo os que declaram sua fé dogmática no que quer que seja. Como alguém defende a proibição da camisinha? Como alguém defende a virgindade como virtude, em tenebrosas e empobrecidas regiões da África? Os missionários estão aí para fazer o que sempre fizeram: espalhar a miséria de suas idéias pobres, de seus ideais empobrecedores. Perguntem às africanas o que elas querem. Elas responderão que querem anti-concepcionais e camisinhas. Elas querem cortar o ciclo de miséria que nunca termina e se multiplica com suas dezenas de filhos que morrem de fome e doenças evitáveis.
O respeito às religiões é um conceito absurdo: como respeitar alguém que não me respeita? Seja entre uma religião e outra ou entre diferentes versões da mesma religião, o respeito definitivamente não faz parte do repertório religioso. Peguem o Corão para ver quantas vezes os mulás que o escreveram dizem que os não-muçulmanos são imorais e malvados. Peguem a Bíblia para ver quantas vezes os não religiosos são chamados de imorais e depravados. Respeitar esses conceitos é francamente ridículo, além de ser auto-destrutivo.
Sim, muitas destas seitas pregam o fim do mundo. Mais do que isso, elas
querem o fim do mundo. Alegram-se com isso. Pode-se levar a sério alguém que está trabalhando contra todos os seres que habitam o nosso planeta? Há uns que pensam que vão ser "arrebatados". Outros esperam OVNIS descerem sobre pirâmides. Ainda outros tomam chá de cogumelo para ficar com "barato". Outros cobram dízimo para comprar emissoras de TV. Outros batem nas próprias costas com um chicote até sangrar. Respeito só é para quem merece. Não acreditem em mim. Olhem ao redor.
As religiões dividem. Para elas, uma pessoa é menos do que a outra só em base à sua religião. Todas as religiões fazem isso. Não adianta tentar me convencer que o cristianismo é uma exceção: basta ver o que os católicos e os protestantes fazem na Irlanda do Norte. Não se pode dividir as pessoas em seitas, grupos, tribos primitivas. Já existem as divisões nacionais, de língua, de costumes. As religiões só acrescentam divisões inúteis e perniciosas que terminam por gerar conflitos completamente evitáveis e irracionais. O que dizer de alguém que, para ganhar as virgens do paraíso, se explode matando centenas de pessoas? O que dizer de quem recruta, doutrina, distorce as mentes desde a mais tenra juventude desses que, fatalmente, se tornarão poços de ódio e rancor? Não acreditem em mim, olhem ao redor.
Hoje em dia, a grande tribo que mais cresce não é, ao contrário do que se diz por aí, a dos adoradores de Alah. A tribo que mais cresce é aquela dos que acham que não existem tribos. Pessoas são pessoas. Os não religiosos hoje são mais numerosos até que os islâmicos, e isso está deixando as religiões em polvorosa. Os livros "blásfemos", para usar a expressão própria dos tiranos religiosos, estão vendendo mais que banana na feira.
Aí alguém pergunta: "Se as pessoas não tiverem religião, como é que fica a moral?". Para esses respondo: os Estados Unidos são mais religiosos que a Europa. Em alguns países da Europa, mais de 90% se dizem sem religião, enquanto 80% dos americanos acham que um deus ouve suas preces. Mesmo assim, e apesar da imoralidade que os religiosos teimam em tentar associar com os não religiosos, há muito mais AIDS nos Estados Unidos que na Europa. Há muito mais assassinatos nos Estados Unidos que na Europa. Há muito mais abortos nos Estados Unidos que na Europa. Há muito mais gravidez em adolescentes nos Estados Unidos que na Europa. Não acreditem em mim: vejam por vocês mesmos. Os não religiosos são moralmente muito mais avançados do que os que se auto-proclamam "donos" da moral.
O uso das próprias faculdades intelectuais é o segredo. A moral é uma conseqüência natural. Todo ateu sabe disso. Os religiosos agarram-se desesperados a suas bíblias com medo de ter que começar a pensar.
Quando quero inspiração, pego um livro científico velho. Há muitos, para todos os gostos, em todas as disciplinas. Quando leio um desses, que pode ter sido escrito por
Galileu ou
Georg Agricola, vejo a imensidão do trabalho da Ciência, os dedicados soldados que batalham dia e noite para desvendar os segredos do mundo natural. Comparo o que se sabe hoje com o que se sabia há 500 anos. O progresso da Ciência me enche de orgulho e de esperança. Os religiosos a detestam, pois tira-lhes o poder, que é em última instância baseado na ignorância forçada aos jovens. A Ciência é o oposto disso.
Dizem então os religiosos: "E os efeitos negativos da Ciência? O efeito estufa e a bomba atômica?" Respondo: não são nada comparados aos efeitos positivos: só a invenção dos antibióticos salvou mais vidas do que jamais foram salvas pela caridade católica. Estima-se que
5 bilhões de pessoas não morreram porque foram tratadas com antibióticos ou vacinas, ferramentas científicas por excelência. Alguém se habilita a atacar Pasteur ou Sabin?
Não acreditem em mim. Vejam por vocês mesmos. Desejo a todos um felicíssimo feriado e um ano novo cheio de esperança e possibilidades.